literatura identidade pertencimento

Você sabe quais sãos as suas origens? As raízes da sua família, de onde ela veio ou por onde passou? Para a população negra da África e da diáspora, em geral, responder a essa pergunta inicialmente pode ser difícil. Afinal de contas, foram séculos de escravidão e de exploração do continente africano em função da colonização e por outros interesses. Esse assunto foi tema da mesa “Literatura, identidade e pertencimento”, da qual participaram os escritores Abdulai Sila, Elisa Lucinda e Olinda Beja. Eles contaram das próprias experiências na busca por identidade, das dificuldades em ser negro no Brasil, na África e na Europa. 

A escritora Olinda Beja narrou brevemente a sua história. Ela nasceu em São Tomé e Príncipe e foi enviada quando criança para Portugal. “A minha procura por identidade começou ainda no ensino primário. Não havia na escola absolutamente ninguém com a minha cor”, relembrou. O mundo de Beja era europeu e ela nunca se sentiu completamente em casa. Só 37 anos depois teve a oportunidade de voltar para sua terra natal e se reencontrar com a família materna e com as próprias raízes. 

“A literatura eu posso dizer que foi a âncora em que me agarrei para conseguir sobreviver até hoje. Porque o regresso não foi fácil, eu não sabia falar crioulo, não conhecia São Tomé. Eu não era daqui e eu não era de Portugal”, destacou na tentativa de resumir o sentimento de não pertencer a lugar algum. Aos poucos, reencontrou-se com o local e fez dele inspiração para a sua obra. Por meio dos livros difunde o seu país e o seu povo.

Marcas da guerra

Por outro lado, o escritor guineense Abdulai Sila contou da sua experiência sobre pertencimento e identidade por outro ponto de vista. Ele nasceu em 1958 e cresceu em uma Guiné-Bissau que lutou pela independência e pela democracia. Como contamos aqui no texto sobre o português falado em Guiné-Bissau, o país ficou em guerra pela independência entre 1963 e 1974. “Eu nasci no meio da guerra. Isso faz com que a minha relação com o meu país seja diferente da dos brasileiros atualmente. Quando eu nasci, éramos uma colônia. Depois, passamos por um governo fascista, opressor, que nos achava seres inferiores e nos tratava como tal”, ressalta Sila. 

Uma das alternativas para pensar a construção de identidade do país, para ele, é a literatura. “Nós, que estamos em um processo de reconstrução da nação, temos que recorrer à literatura para consolidar esse sentimento de pertencimento. Como isso se faz? Juntando os fragmentos do passado e vendendo uma imagem de futuro que seja diferente daquilo que se viveu”.

Poesia falada

Elisa Lucinda contou sobre a sua trajetória nas artes. Ela abriu a conversa cantando! Entoou “Promessa de violeiro”, de Celino Levestem e Raul Torres, para exaltar a ancestralidade. “Se a gente quer descolonizar, temos de entrar com as nossas narrativas, nossos modos variados e originais de existência”, comentou. Com carreira extensa em teatro, cinema, televisão e literatura, o carro-chefe da sua obra é a poesia. Em especial a poesia falada. No bate-papo, entre tantas histórias, ela comentou sobre o início da carreira, quando, nas praias do Rio de Janeiro, reunia multidões para declamar poemas autorais e de autores consagrados.

Acompanha a programação em tempo real, 24 horas por dia. 

 

SOBRE O FLIARAXÁ

O Fliaraxá foi criado em 2012 pelo empreendedor cultural e diretor-presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, Afonso Borges. As cinco primeiras edições aconteceram no pátio da Fundação Calmon Barreto e, a partir de 2017, o festival passou a ocupar o Tauá Grande Hotel de Araxá, patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais, edificação construída em 1942. Naquela edição, nasceu também o “Fliaraxá Gastronomia”. Cerca de 140 mil pessoas passaram pelo festival. Mais de 400 autores participaram da programação.

IX FLIARAXÁ – FESTIVAL LITERÁRIO DE ARAXÁ – 28 DE OUTUBRO A 1.º DE NOVEMBRO DE 2020

Transmissão virtual 24 horas pelos canais:

 www.youtube.com/fliaraxá 

www.fliaraxa.com.br

Texto por Jaiane Souza/Culturadoria