filosofia e literatura

Existe fronteira entre duas disciplinas que trabalham com a linguagem? Essa foi uma das reflexões feitas pelo filósofo e escritor Onésimo Teotónio Almeida e pelo escritor Sérgio Abranches. Eles participaram da mesa “Filosofia e Literatura”, em 30 de outubro. Ambos defenderam que não há uma barreira propriamente dita entre elas, mas sim particularidades e camadas de entendimento. 

“Não há uma fronteira entre as duas disciplinas, tudo que é humano está interligado. A questão é que algumas disciplinas concentram-se em determinada área ou ponto de vista”, explicou Onésimo. De acordo com ele, a literatura normalmente abrange tudo, usando o lado poético da língua para escrever sobre o real ou a ficção. Tudo isso sem nenhuma obrigação em ser verdadeiro, honesto ou sincero. 

A visão de Sérgio Abranches está de acordo com a de Onésimo, tecida ainda por uma crítica. Segundo ele, atualmente não há nenhum escritor que se proponha a fazer, de fato, uma obra abrangente e que tente capturar o espírito do tempo como aconteceu em “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro. “Por outro lado, a nossa literatura é muito limitada por algumas regras que a academia brasileira foi criando sobre o que deve ser romance. Assim fomos perdendo a possibilidade de escrever romances filosóficos que misturam elementos de ficção e de ensaio”, explica.

Camadas de entendimento da filosofia na literatura

Apesar do debate sobre uma suposta barreira entre filosofia e literatura, o fato é que elas estão o tempo todo em confluência. Um exemplo é quando se fala em poesia. Será que é o gênero que mais se aproxima da literatura? “Depende, mas a poesia permite pensar no abstrato e no valor dele”, destaca Abranches. 

O mesmo acontece com romances. “Não é preciso falar da filosofia ou citar autores no romance. Mas as questões filosóficas estão sempre lá, na sutileza. O leitor percebe, vai entrando nas camadas e extraindo o que tem de filosofia”, salienta Onésimo Teotónio de Almeida. 

Outro ponto de destaque na conversa foi sobre a relação dos próprios escritores e dos filósofos com as outras áreas. Para Onésimo, Nietzsche foi um grande literato ao conseguir comunicar ideias de maneira criativa, em uma linguagem não necessariamente técnica. O mesmo ocorreu com Guimarães Rosa ao retratar um sertão metafísico, que lida com questões como o bem e o mal, por exemplo, de acordo com Abranches.

 

A seguir você confere o bate-papo complete que teve mediação de Afonso Borges. 

 

Acesse aqui a programação completa.

SOBRE O FLIARAXÁ

O Fliaraxá foi criado em 2012 pelo empreendedor cultural e diretor-presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, Afonso Borges. As cinco primeiras edições aconteceram no pátio da Fundação Calmon Barreto e, a partir de 2017, o festival passou a ocupar o Tauá Grande Hotel de Araxá, patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais, edificação construída em 1942. Naquela edição, nasceu também o “Fliaraxá Gastronomia”. Cerca de 140 mil pessoas passaram pelo festival. Mais de 400 autores participaram da programação.

IX FLIARAXÁ – FESTIVAL LITERÁRIO DE ARAXÁ – 28 DE OUTUBRO A 1.º DE NOVEMBRO DE 2020

Transmissão virtual 24 horas pelos canais:

 www.youtube.com/fliaraxa 

www.fliaraxa.com.br

Texto por Jaiane Souza/Culturadoria