Este texto é de autoria do jornalista Alberto Villas, publicado originalmente no jornal eletrônico diário OSOL.

Livro Aberto

O 12.º Festival Literário Internacional de Araxá, carinhosamente chamado de Fliaraxá, que movimentou a cidade mineira entre os dias 19 e 23, foi um sucesso sem tamanho, que deixou marcas positivas na cidade e nas mais de 25 mil pessoas que passaram por lá.

Assim que começa um festival literário, que a gente gosta de chamar de feira, numa cidade, principalmente do interior, um burburinho natural toma conta das escolas, das praças, das conversas nas esquinas, por toda parte. Assim foi em Araxá e o seu décimo segundo Fliaraxá, que terminou no fim da semana passada.

Não é pra menos. Os números dão uma ideia da dimensão do evento. Além das mais de 25 mil pessoas que acompanharam os programas, a feira teve a participação de 110 escritores e escritoras, que promoveu atividades acessíveis, inclusiva, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência.

Não para por aí. Foi montada uma livraria com 440 metros quadrados e 30 mil títulos. Durante os dias da Fliaraxá, 7 mil livros foram vendidos. Cerca de 250 profissionais foram envolvidos para colocar o evento de pé. Pra ser bem preciso, 2.400 horas foram necessárias para montar a infraestrutura do evento, que dispôs de 980 ml de área coberta e piso elevado, 220 m de impressão digital, 1.800 metros de cabeamento para iluminação e de revestimentos diversos e mais de 50 pontos de iluminação decorativa e de serviço – o que acarretou em mais de 45 toneladas de estrutura e equipamentos.

Quanto às redes sociais, mais de 22 mil seguidores acompanharam as divulgações online, que refletiram em mais de 43 mil visualizações do perfil e quase dois milhões de impressões. No Facebook, mais de 17 mil curtidas da página refletiram em mais de 300 mil impressões totais. O site, espaço virtual que contempla todas as informações a respeito do Fliaraxá, teve mais de 71 mil visualizações. Ufa!

O Fliaraxá é apresentado pela CBMM há 12 anos, via Lei Rouanet. Ninguém teve de pagar nada para entrar e toda a programação foi gratuita, garantindo a democratização do acesso. O evento teve, também, o patrocínio do Itaú e Bem Brasil. Com o tema “Memória, Literatura e Diversidade”, o Fliaraxá equiparou os convidados em termos de gênero, raça e também de origem geográfica no Brasil, mantendo o equilíbrio entre homens e mulheres, com representatividade de autores negros, brancos, indigenas e de diferentes estados brasileiros. Neste ano, o evento teve curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias e Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva. O curador da programação infantojuvenil foi o escritor e professor Leo Cunha. Participaram, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras.

Este ano, os vídeos mostrados foram longe demais.

Assistiram a eles espectadores do Brasil, mas também de outros países: Portugal, Moçambique, França, Indonésia, Angola, Hungria, Canadá, Cabo Verde, China e Estados Unidos, que também acompanharam o evento pelo ambiente cibernético. As impressões das redes sociais do Festival indicam que, mais do que nunca, o evento é figital: combina as dimensões física, digital e social.

Aquele velho ditado de que brasileiro não gosta de ler fica longe e obsoleto quando abrimos os olhos para o que aconteceu em Araxá. O interesse das pessoas pelos escritores, pelas obras, pelos caminhos percorridos e a percorrer, não tem tamanho.

O Fliaraxá fez todo mundo respirar fundo e acreditar que o Brasil tem jeito, jeito de melhorar, de avançar.
O Festival promoveu encontros históricos, como a conversa entre Conceição Evaristo, Eliana Alves Cruz e Tom Farias sobre ancestralidade. Também abriu espaço para reflexões dos escritores sobre o processo criativo – criação de personagens, adesão a diferentes gêneros literários, vozes narrativas e projetos literários –, como fizeram Aline Bei, Geovani Martins e Marcia Tiburi.

Também houve conversas sobre ética do cuidado e espiritualidade, como no encontro entre Djamila
Ribeiro e Bruna Lombardi; ou a literatura em diálogo com outros campos artísticos nas abordagens feitas por Aline Bei, Afonso Cruz, Marcelino Freire e Stefano Volp. Os afetos e a descolonização deles também foram pontos salientados em diferentes mesas, como a conversa entre Denise Fraga e Renato Nogueira e as participações, em dois momentos diferentes, de Geni Núñes.

A programação infantil contou com programação extensa para a garotada: contação de histórias, saraus de escritores, oficinas de dedoches e o encontro com autores. No encerramento no domingo, os escritores Alessandra Roscoe, Cristina Agostinho, Leo Cunha, Giba Pedroza, Marina Bastos e Tino Freitas fizeram um sarau.

E tem mais: o Fliaraxá preza e trabalha com os princípios da preservação ambiental, fato que pode ser comprovado a partir da parceria de anos que o evento mantém com o Instituto Terra no que tange à compensação de emissões de gás carbônico na atmosfera. Em 2024, o Fliaraxá foi além e inseriu a prática da reciclagem em sua jornada.
Araxá está preparada. Que venha o décimo terceiro Festival Literário!