José Eduardo Agualusa e Conceição Evaristo participaram do Fliaraxá em períodos muito diferentes. Se por um lado, Agualusa foi o primeiro convidado internacional do evento; por outro, Evaristo participou pela primeira vez em 2019 e foi recebida calorosamente. Inclusive, a escolha como escritora homenageada ao lado de Agualusa partiu dos curadores Afonso Borges, Heloisa Starling, Sérgio Abranches e de uma demanda dos leitores que admiram a obra e a história de Conceição. 

“Comecei a me sentir homenageada desde o ano passado. Como mineira e há tanto tempo fora de Minas Gerais, é muito significativo pra mim também”, contou Conceição. Ela participou de uma conversa com Afonso Borges e contou sobre como é fundamental o incentivo à leitura, sobre a sua infância, trajetória e relação com Minas Gerais. Nasceu na capital mineira em 1946 e se interessou pelas palavras desde os primeiros contatos com a leitura.

Ela lembra com carinho dos jornais, livros e revistas infantis que o tio comprava todos os domingos. Saiu da cidade e mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1973, para se dedicar à carreira de professora. Entretanto, as raízes sempre foram fortes.  “A fonte onde você bebeu a primeira água, onde literalmente meu umbigo está enterrado, não há como Minas sair de mim”, destacou.

Infância e fase adulta

Ainda na infância, um ponto fundamental na vida de Evaristo foi ser vencedora de um prêmio de redação. O prêmio foi importante porque na primeira série foi diagnosticada com dislalia (dificuldade na fala) e reprovada.

No bate-papo, ela ainda falou sobre oração, que vê como uma espécie de poesia, e sobre como se sente aos 73 anos de idade. De acordo com ela, não é um empecilho para nada, pelo contrário, acredita estar na melhor fase. “Eu devo estar em uma idade plena, com muita coisa para escrever (ensaio, poesia, romance). E não é sobre a idade, mas o que consegui fazer, o que pretendo fazer, o que a vida me deu, o que eu já perdi com a vida. Como tudo, com o tempo vai apaziguando, mas eu te digo que vai apaziguando porque eu tenho vocação para a felicidade”, revela.

José Eduardo Agualusa

De outra conversa com Afonso Borges, participou o escritor angolano José Eduardo Agualusa. O homenageado bateu um papo sobre a literatura africana, a relação do Brasil e as diferenças de relação com os livros ao redor do mundo e sobre a própria pandemia. De acordo com ele, estranhamente o novo livro tem um pouco a ver com a situação atual.

“Os vivos e os outros” foi lançado em julho de 2020 e discorre a partir da história de um grupo de escritores que fica preso em um festival literário em Moçambique por causa de uma tempestade. Então, chega um momento no qual eles ficam incomunicáveis. Em seguida, passa a correr o boato de que o mundo depois da ponte acabou. “Alguns sentem que estão no paraíso, outros que estão no inferno e percebem que a única maneira de iniciar o mundo é com a palavra. Levando a sério a primeira frase da Bíblia de que “no princípio era o verbo”, explica o escritor. 

Ainda, durante a mesa, Agualusa comentou sobre o reconhecimento dos escritores africanos pelo povo brasileiro. Afinal, antes de mais nada, o Brasil tem matriz africana. “Quando o brasileiro desembarca em Angola, ele sente isso, porque é uma ligação muito mais profunda do que aquela que liga o Brasil à Europa”, destaca Agualusa. Além disso, ele acredita que é necessário um redescobrimento. “É importante que o Brasil redescubra a África, mas redescubra essa África contemporânea, jovem, que produz literatura, música e cultura.” 

A seguir você confere a conversa completa. José Eduardo Agualusa também comentou sobre a relação de diferentes países com os livros e as bibliotecas e contou curiosidades. Ele sempre é confundido com Mia Couto e já deu autógrafos no lugar do colega. Confira!

 

 

Acesse aqui a programação completa.

SOBRE O FLIARAXÁ

O Fliaraxá foi criado em 2012 pelo empreendedor cultural e diretor-presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, Afonso Borges. As cinco primeiras edições aconteceram no pátio da Fundação Calmon Barreto e, a partir de 2017, o festival passou a ocupar o Tauá Grande Hotel de Araxá, patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais, edificação construída em 1942. Naquela edição, nasceu também o “Fliaraxá Gastronomia”. Cerca de 140 mil pessoas passaram pelo festival. Mais de 400 autores participaram da programação.

IX FLIARAXÁ – FESTIVAL LITERÁRIO DE ARAXÁ – 28 DE OUTUBRO A 1.º DE NOVEMBRO DE 2020

Transmissão virtual 24 horas pelos canais:

www.youtube.com/fliaraxa

www.fliaraxa.com.br

Texto por Jaiane Souza/Culturadoria