Danilo Miranda, Afonso Borges e Tom Farias participam da cerimônia de abertura do 11º Fliaraxá

Às 18h do dia 5/7, no Estádio Municipal Fausto Alvim, o 11.º Fliaraxá tem início a partir do corte da fita que simboliza o começo do Festival Literário de Araxá. Em seguida, às 19h, os curadores do Fliaraxá, Afonso Borges e Tom Farias, e o escritor Sérgio Abranches, participam de uma cerimônia de abertura para, de fato, inaugurarem a décima primeira edição do Festival. O evento contará com a presença remota de Danilo Miranda, diretor do Sesc-SP. Mesmo não estando presencialmente no 11.º Fliaraxá, Miranda fez questão de falar a respeito do Festival e de tudo que ele representa. Leia seu depoimento abaixo:

“Meus amigos, mais uma vez estamos nesta abertura do Fliaraxá. Uma programação importantíssima para a cidade, para a região e para todo mundo interessado pelo campo da literatura.

Em primeiro lugar, trata-se de algo muito especial. Meu companheiro e amigo Afonso Borges, organizador do evento, empreendedor cultural que realiza tantas ações no campo da cultura, especialmente no campo da leitura, do livro, que me convida sempre para participar do Festival. Tenho muito prazer em fazer isso enquanto alguém que administra uma instituição ligada ao campo também da cultura, no sentido da cultura das artes, da literatura, e com isso poder, de alguma forma, colaborar para essa realização – seja o Fliaraxá ou outros festivais que o Afonso realiza. Isso sem contar, é claro, dos trabalhos que fazemos juntos na cidade de São Paulo, especialmente o Sempre um Papo, que é uma atividade que já tem muitos anos de realização e que traz essa marca de buscar o fomento, a divulgação cada vez maior da literatura, do livro, através desse encontro com os autores e criadores. De certa forma, o Sempre um Papo é um pequeno festival que acontece várias vezes durante todo o ano, de forma que são vários pequenos festivais que juntos realizam um grande trabalho voltado para a literatura.

Aqui em Araxá, temos a 11ª edição dessa apresentação, o que é algo muito especial a ser realizado nesta cidade histórica, importante, com os apoios necessários. O tema deste nosso encontro, em sua 11ª edição, é ‘Educação, Literatura e Patrimônio’, e teve a curadoria dos amigos queridos, que são o próprio Afonso, Tom Farias e Sérgio Abranches. São os três responsáveis pela programação, além de muita gente que virá participar como colaborador, como palestrante. Trata-se de uma série de pessoas que tem tido um envolvimento, analisando, discutindo, criando, alinhadas à ficção, à documentação, à História, à reflexão e, sobretudo, à realidade brasileira. Realidade essa tão complexa, mas com a marca clara daquilo que é mais importante hoje em dia, que é a questão da humanização, da sociedade, da diversidade discutida sob vários pontos de vista, com a participação de artistas de todas as procedências. Tudo isso tem trazido um elemento novo à nossa discussão e está presente aqui. Estão presentes autores como Itamar Vieira Junior, Jeferson Tenório, Tom Farias e muitos outros. Todos eles têm tido o papel de trazer esse lado, muitas vezes pouco conhecido, da nossa realidade cultural e da nossa sociedade, das características que, de alguma forma, mantêm a nossa sociedade. São representantes, em grande parte, da comunidade negra.

Nós temos muitas questões ligadas à diversidade, à aceitação do outro, do diferente, das características que o outro tem e que eu, de alguma forma, com elas convivo ou devo conviver. Também temos a questão do preconceito, a questão da formação que nós (re)temos voltadas para determinados tipos de comportamento, de aceitação, ou de não aceitação. Vejo com muita clareza que a questão da raça, a questão negra no Brasil, de forma particular, é decisiva porque tem vínculos – não só com todas as demais, mas vínculos próprios, profundos, com o comportamento e com a cultura que nós recebemos e que nos induz a determinados tipos de atitudes e comportamentos. Tudo isso desde a nossa origem, nossa formação, bem lá nos primórdios.

Agora isso tem que ser mudado – e já está sendo mudado – de uma maneira radical. A razão pela qual enfatizo a questão da raça e da igualdade no Brasil como um elemento absolutamente central para a transformação efetiva do País tem a ver com a nossa história, nosso passado. Nela, nós temos elementos centrais que nos levaram a isso. A escravidão no Brasil foi mais profunda do que em outros lugares, eu diria, porque foi mais numerosa e mais intensa. A formação de um quadro cultural profundo na formação das pessoas juntava isso de uma maneira mais radical, pela quantidade e pela normalidade que se estabeleceu,  e durante muito mais tempo do que em outros lugares. Tudo isso levou a um tipo de caminho que exige da nossa parte um esforço maior do que os demais para poder superar. Talvez em outros lugares isso tenha sido superado, alterado; para nós, parece que ainda não conseguimos mudar profundamente – e precisamos fazer isso. Somente no dia que a gente fizer isso, a tal desigualdade no Brasil – que é verdadeira, profunda, imensa e tem vários aspectos econômicos, sociais, geográficos, políticos – ganha um combate mais profundo. Se a questão racial for combatida de maneira mais intensa, isso, de alguma forma, chegará mais longe.

Quando eu digo que chegará mais longe, quero dizer origens, família, escola, sociedade, dia a dia, convivência, convicções, caminhos, formação cultural e tudo de mais – porque cultura é algo que é a própria vida humana. Quando eu digo “a cultura é a vida humana”, me refiro à cultura de uma maneira bastante ampla, como universo no qual estamos inseridos desde o momento que a gente nasce até o momento que a gente fecha os olhos para sempre. Por que eu digo isso? Porque desde aquele momento inicial até o último momento, estamos interagindo com o nosso meio, com as pessoas que estão à nossa volta, em termos de olhares, palavras, comunicações das mais variadas.

Cultura não diz apenas das artes, que são partes fundamentais, importantíssimas da cultura, e que têm suas nobrezas, suas belezas, seus encantamentos. Também estamos falando de provocação, debate, discussão. Tem a ver com essa reflexão, que vai acima da questão pura e simplesmente material, usando aquilo que a humanidade vai percebendo e vai transformando e vai mudando. Que usa o som, a palavra na literatura, a imagem, o traço, a cor  para essa transformação, e que com isso vai ganhando possibilidade de comunicação. E, no fundo, no fundo, é sempre na perspectiva da entrega, da comunicação que nós estamos falando, que a cultura se realiza efetivamente.

Com muita clareza, a cultura tem esse campo vasto. É a vida do ser humano, na qual estamos inseridos de um lado, no sentido antropológico. Tudo que não é natureza é cultura, tudo que é intervenção humana é cultura. Ao mesmo tempo, também tem esse sentido mais específico dentro do campo que é a cultura das artes, do espetáculo, da criação humana, da capacidade de transformar um símbolo, uma imagem, e com isso também comunicar. Aí também se encontra a literatura.

Falar de educação, de literatura, é algo que está imbricado, inserido de uma maneira profunda. Quanto mais lemos, mais temos tem a capacidade de entender o outro – mais temos a capacidade de perceber as coisas que o mundo nos oferece à nossa volta, seja para aceitá-las, seja para rejeitá-las, mas para conhecê-las, saber da sua existência, da sua importância e do papel que desempenham. O Fliaraxá pretende que todas essas questões sejam trazidas e discutidas por muitas pessoas. Naturalmente, isso tudo vai ganhar uma dimensão muito especial.

No Sesc de São Paulo, instituição da qual sou diretor há algum tempo, temos essa experiência de lidar com a literatura e com o livro de maneira bem objetiva – tanto nas unidades, com pontos fixos, bibliotecas estabelecidas, quanto com nosso trabalho voltado para as bibliotecas móveis, aquelas que circulam em caminhões especiais, levando a nossa contribuição para as comunidades que têm menos acesso. Isso facilita um encontro com autores e criadores dos mais variados gêneros e com todo tipo de literatura também. A escola, as famílias e a sociedade de modo geral têm um papel importantíssimo para o fomento da leitura e da literatura.

Esse encontro com autores, com criadores, certamente colabora imensamente para esse fomento. Essa é uma oportunidade muito grande, muito especial, para ser aproveitada no Fliaraxá, oportunidade que nem todas as cidades do Brasil têm tido. É importante ressaltar o esforço que meu querido amigo Afonso Borges faz para que isso aconteça. Além disso, é importante ressaltar também o apoio que a sociedade local, a prefeitura municipal, outras autoridades locais, entidades e empresas da cidade de Araxá têm oferecido para poder realizar essa feira.

Eu gostaria, portanto, de deixar o meu desejo de que o 11.º Fliaraxá seja muito bem sucedido nessa questão, sobretudo do pensamento sobre a importância da literatura e do livro como algo central para que a gente transforme, mude, melhore este País, colabore para que a sociedade seja melhor e a gente tenha uma vida mais humanizada e um processo civilizatório mais completo na nossa sociedade.”

O 11.º Fliaraxá conta com uma programação repleta de eventos e atividades que celebram a literatura e a cultura como um todo. A abertura do evento será realizada no dia 5/7, quarta-feira, com a presença dos curadores do Fliaraxá, Afonso Borges e Tom Farias, e do escritor Sérgio Abranches. O diretor do Sesc-SP Danilo Miranda participará da ocasião, porém de forma virtual. Mesmo assim, sua presença no evento de abertura do Fliaraxá é um sinal do reconhecimento e apoio do Sesc-SP a esse evento tão significativo.

A abertura do 11.º Fliaraxá será realizada no dia 5/7, quarta-feira, às 19h.O evento será sediado no Estádio Municipal Fausto Alvim e tem entrada gratuita mediante retirada de ingresso no Sympla.

Danilo Santos de Miranda é gestor cultural, sociólogo e autor, nascido em Campos dos Goytacazes-RJ em 1943. Destaca-se pelas ações realizadas como diretor regional do Serviço Social do Comércio (Sesc) em São Paulo, como a ampliação de atividades culturais, esportivas e educacionais. Escreveu obras como “O parque e a arquitetura: uma proposta lúdica” (1996) e “Para além das máquinas de adorável graça: cultura hacker, cibernética e democracia” (2018).

O Fliaraxá é apresentado pela CBMM, com patrocínio do Itaú e da Cemig, via Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, com apoio da TV Integração, Prefeitura Municipal de Araxá, Fundação Calmon Barreto, Câmara Municipal de Araxá, Academia Araxaense de Letras, Condor Eventos, Vale Sul/Goethe-Institut, Instituto Terra e Sesc.

Serviço:

11.º Festival Literário de Araxá – Fliaraxá

De 5 a 9 de julho, de quarta-feira a domingo

Tema: “Educação, Literatura e Patrimônio”

Local: programação presencial no estacionamento do Estádio Municipal Fausto Alvim (Av. Imbiara – Centro, Araxá) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa

Informações:

@fliaraxawww.fliaraxa.com.br

Informações para a Imprensa:

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