Texto: Marina Vidal – estagiária sob supervisão

O Pós Fliaraxá está promovendo discussões importantes inerentes à cultura, conectando os diversos temas, à literatura.  No dia 25 de março de 2021, o tema em debate foi “Suassuna, Chico Buarque e o sertão no palco” com os integrantes da Barca dos Corações Partidos: Adrén Alves, Renato Luciano, Fábio Enriquez, Ricca Barros. A conversa foi mediada pelo professor Rafael Nolli, sendo transmitida pelo Youtube do Fliaraxá. A edição complementar ao nono Fliaraxá (Festival Literário de Araxá) está acontecendo de forma virtual, devido à pandemia do Covid-19.

Fábio Enriquez contou que a Barca dos Corações Partidos é uma Companhia de Teatro Musical autoral, que começou em 2012, a partir de um projeto de Andréa Alves, da Sarau Agência de Cultura Brasileira. “Ela é a nossa matriarca, uma mulher no meio de sete homens. Ela, através do projeto ‘Gonzagão a Lenda, convidou a gente para essa peça. E viajando pelo Brasil a gente foi se juntando e já estamos juntos há nove anos”. Adrén Alves disse que além de ser a grande responsável pela Barca, Andréa teve a ideia de montar um espetádeculo sobre Luiz Gonzaga, outro sobre a obra ‘Macunaíma’ e de também de homenagear Suassuna. “Sempre a ideia parte dela, de certa forma. Ela que teve a ideia de fazer. A gente tem uma produtora e uma produção e não fazemos só produção de teatro”.

O nome da Companhia é inspirado na peça ‘Gonzagão A Lenda’ do diretor João Falcão. “No espetáculo o João Falcão escreveu sobre uma futura Companhia que descobriu sobre o Luiz Gonzaga. Ela se chamava Barca dos Corações Partidos e só tinham homens. Durante os ensaios de ‘Gonzagão A Lenda’, a gente se encontrava como podia e um dava oficina para o outro. E a gente foi se apaixonando e quando acabou o ‘Gonzagão’ a gente, sem querer, já era uma companhia”, lembrou Adrén.

A Companhia é muito diversificada e trabalha com vários estilos artísticos.

“Oficialmente, nós somos uma Companhia de Teatro, mas a gente não deixa de se permitir fazer coisas exclusivamente musicais ou até coisas que possam surgir na nossa cabeça daqui a algum tempo”, disse Renato. Para ele, a arte era unificada, mas houve um momento histórico em que a arte se dividiu. Contudo, há vários artistas que lidam com mais de um campo da arte. “A gente simplesmente se permite navegar por todos esses mares”.

Essa possibilidade de misturar linguagens surgiu, principalmente, em razão do espetáculo “Auê”, conforme explicou Ricca Barros. “Estamos abertos às linguagens. O ‘Auê’ abriu um campo muito rico porque, normalmente, a gente tem uma influência muito forte do teatro musical norte-americano, principalmente capitais como São Paulo e Rio de Janeiro”. O objetivo da Barca é fazer um teatro com uma linguagem mais brasileira, abordando os grandes nomes da nossa arte como Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Ariano Suassuna e Mário de Andrade. “É um caldo de brasilidade que a gente tem o privilégio e a honra, como artista, de exaltar, defender e devolver para o público brasileiro. A gente realmente precisa exaltar essa arte maravilhosa que o Brasil produz”, disse Ricca. 

Ariano Suassuna, para Ricca, era um autor erudito e romancista. “O Ariano era um gênio porque era um dramaturgo, um romancista, um palhaço, era realmente um desses grandes brasileiros que merecem ser exaltados. Ele tinha fixação pela junção das culturas populares que afloram muito fortemente no Nordeste. E a gente teve o privilégio de mergulhar nesse universo e nessa pesquisa de uma obra que é cheia de signos e simbolismo”.

A Barca se inspira muito nesses autores e estuda muito suas obras porque se propõe a passar a essência desses clássicos para os brasileiros que, principalmente, não tiveram a oportunidade de conhecê-los. Por isso, a Companhia já foi agraciada com muitos prêmios. “Podemos beber dos clássicos pelo filtro do olhar de autores como Chico Buarque e Ariano Suassuna e dessas experiências que eles tiram, não só dos clássicos, mas também das ruas, das praças. Quando a gente fala dessa poesia urbana que o Chico bebe da Rua da Lapa ou da Rua da Bahia e o Ariano vai pegar a poesia popular, das praças, do Maracatu. A obra do ‘Malandro’ borbulhou pesquisa, trouxe muita coisa rica para nós como artistas e como ser humano”, constatou Fábio.

Renato Luciano explicou que a veia literária do grupo está atrelada à música e à literatura, por serem indissociáveis. “Na Antiguidade, já era uma coisa que não se separava muito. A música precisa de ritmo e harmonia. A literatura também precisa de ritmo, de harmonia e de melodia”. Ele acredita que todos esses autores da literatura brasileira possuem um ponto de interseção. “Esses autores que admiramos e amamos muito, falam da nossa realidade, da nossa cultura, coisas que estão no nosso DNA e trazem a cultura popular e misturam com a cultura erudita. A gente se apropria disso e leva para o máximo de pessoas a partir da nossa linguagem”.

Acompanhe a conversa na íntegra pelas redes sociais do projeto, no Instagram e Facebook e no canal do Fliaraxá no Youtube, com acesso pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=s4To3X8AhDg

FRASES:

“A gente realmente precisa exaltar essa arte maravilhosa que o Brasil produz. E a Barca dos Corações Partidos tem essa missão”.  – Ricca Barros, 25/03/2021

“A gente foi se apaixonando como pessoas e quando acabou o ‘Gonzagão – a Lenda’ a gente, sem querer, já era uma companhia”. – Adrén Alves, 25/03/2021

“A gente pode beber dos clássicos pelo filtro do olhar de autores como Chico Buarque, como Ariano Suassuna”. – Fábio Enriquez, 25/03/2021

“A obra do ‘Malandro’ borbulhou pesquisa, trouxe muita coisa rica para a gente como artistas e como ser humano”. – Fábio Enriquez, 25/03/2021

“O Ariano tinha essa característica de ser um autor erudito, um romancista”. – Ricca Barros, 25/03/2021

“O Ariano era um gênio porque ele era um dramaturgo, um romancista, um palhaço, ele era realmente um desses grandes brasileiros que merecem ser exaltados”. – Ricca Barros, 25/03/2021

“A gente tem como missão levantar essa bandeira dos autores clássicos brasileiros e levar para as pessoas que não tem a oportunidade de ver”. – Renato Luciano, 25/03/2021

“Música e literatura sempre estiveram juntas. A música precisa de ritmo e harmonia. A literatura também precisa de ritmo, de harmonia e de melodia”. – Renato Luciano, 25/03/2021