Por Laura Rossetti

Foi refletindo sobre a estrada e as viagens internas e externas que a escritora e jornalista mineira Daniella Zupo deu início à mesa “A reta é uma curva que não sonha”, na tarde desta sexta, 2/10, no 13º Fliaraxá. Ao lado dos escritores Hugo Monteiro Ferreira, Rute Simões Ribeiro e Afonso Borges, que mediou a conversa, Daniella contou sobre o road book que ela lançou recentemente, “O dia em que encontrei Bob Dylan numa livraria de Estocolmo” (Editora Miguilim).

Na obra, a autora reúne relatos de viagens que ela fez em diferentes continentes – percorrendo desde municípios brasileiros até cidades europeias como Paris e Berlim, e até mesmo aquelas que estão fora dos roteiros turísticos tradicionais. Muito além das descrições sobre os locais que visitou, a autora relata suas viagens exteriores a partir de suas experiências internas, de sua intimidade e sensibilidade. “São cidades que, por diferentes razões, não só me marcaram, mas mudaram o meu olhar, de alguma forma. Então, para cada cidade eu dedico um capítulo, a cada capítulo eu dedico uma canção de um compositor diferente”.

Sobre a referência ao cantor e compositor Bob Dylan no título do livro, Daniella explica que ele representa um sentido de jornada. “É o sentido não de alguém que se desloca geograficamente, com um destino ‘A’, mas de alguém que se aventura a sair do lugar comum, das nossas representações cotidianas, dos nossos papeis. (…) Nesse sentido, é um livro bem dylanesco”, explicou Daniella. 

Hugo Monteiro Ferreira também explicou o significado do título do livro que ele lança agora pela Autêntica Editora: “Agora o meu chão são as nuvens”. “Em 2020, eu estava organizando meu pós-doutoramento em Estudos da Criança, na Universidade do Minho, em Braga [Portugal]. Eu fui pra lá para testar um programa de educação socioemocional que eu havia criado”. O autor conta que todo o seu planejamento para os próximos meses mudou abruptamente, com a chegada da pandemia de Covid-19, que inaugurou um momento de extrema incerteza. “Me veio uma sensação profunda de instabilidade. De não ter chão para pisar ou de pisar em um chão muito movediço”, contou o autor.

Além de escritor, de origem paraibana, Hugo é professor e um estudioso da saúde mental em crianças, adolescentes e jovens. Ele publicou, em 2022, a obra “A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar” (Editora Record). Em seu novo livro, o autor foca ainda mais no ambiente familiar das crianças e jovens que adoecem emocional e psiquicamente. “É um livro sobre como as famílias têm desafios hoje que nós não visualizávamos ou não vislumbramos com tanta clareza como agora. Eu identifico quatro características nessa família, que é a rigidez, a prescrição, o controle e a disciplinarização”, afirmou o autor, ressaltando que “educar crianças e adolescentes não é um cálculo matemático, uma equação que você tem resultados”.

Já Rute Simões Ribeiro é uma escritora portuguesa que mora em Lisboa e chega a Araxá para lançar o livro “O homem sem mim”, pela Editora Nós. Durante a mesa, ela contou sobre a obra, que é narrada por um personagem homem septuagenário acometido pela doença de Alzheimer. “Este trabalho surgiu a partir da observação de um homem, através de um documentário. Comoveu-me imenso uma fala dele – ele olhava para as imagens dele próprio na televisão e comoveu-se muito, não sabendo que era ele próprio. A partir daí, fui construindo este texto”, conta. 

Além disso, Rute comentou o desafio de escrever em primeira pessoa. “Estar no lugar de um homem com 74 anos e com demência é um exercício literário muito interessante. São vários fragmentos que se vão sucedendo”. A autora destacou ainda que a finitude é um dos temas que ela gosta de explorar em sua literatura. Rute publicou, também pela Editora Nós, o livro “A breve história da menina eterna”, em 2022.

Sobre o 13º Fliaraxá

O 13º Fliaraxá acontece até dia 5 de outubro, domingo, no Centro Cultural Uniaraxá. O festival conta com mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades são gratuitas.

Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.