Por Letícia Finamore

O que é o amor para Renato Noguera, Socorro Accioly e Marcelo Rubens Paiva? O fio condutor da palestra dos três autores foi justamente o afeto – que, segundo Noguera, é tão substancial quanto o oxigênio. E as primeiras ideias que surgiram seguiram no campo dos afetos quando Marcelo contou sua história pessoal, que acarretou sua carreira de escritor. Quando tinha 20 anos, sofreu um acidente e teve como sequelas a perda do movimento das pernas. Diante disso, Caio Graco, à época editor da editora Brasiliense, sugeriu que Marcelo escrevesse sua experiência pessoal para canalizar suas vivências em um livro – e daí surgiu “Feliz ano velho”, publicação de estreia do autor, lançada em 1982. A obra, que foi um sucesso de vendas (e também é aclamada hoje em dia), representa para o autor esperança, em razão do contexto em que foi publicada. Não se tratava apenas de uma obra que apresentava novas perspectivas após a recuperação de seu grave acidente, mas também de uma publicação feita durante a época da ditadura militar, quando as editoras pensavam no prejuízo que teriam se publicassem um livro e ele fosse censurado – prática comum em épocas autoritárias.

Dando continuidade à palestra, Socorro Acioli revelou que leu o livro de estreia de Marcelo Rubens Paiva aos 12 anos de idade, escondida de sua família, e que chegou a matar aulas para que pudesse ler a obra sentada na calçada. O impacto que essa leitura teve em sua vida reapareceu mais tarde quando começou a escrever e percebeu que transformar experiências, histórias e memórias em um trabalho é complexo. A escritora ainda completa, afirmando que o fato de não saber como essas obras, tão pessoais, atravessam as trajetórias dos leitores, é um enigma que carrega consigo.

Por escrever sobre “pedaços de sua vida”, Socorro revela colocar a força feminina em perspectiva: “Mesmo que tentem enfraquecer a força das mulheres, é essa pulsão que move o mundo”. Tal característica de sua escrita pôde ser percebida na palestra quando a escritora contou casos de sua família, deixando evidente que parte de suas inspirações advém de sua avó. 

Diante de tantos “causos” pessoais e íntimos, revelados nas escritas de Socorro Acioli e Marcelo Rubens Paiva, Renato Noguera finalizou a palestra unindo as conversas perpassadas pelos afetos com falas sobre o amor, declarando seu desejo de que a mesa fosse encerrada com a esperança de que haja uma amorosidade contagiante: “Somos seres afetivos, máquinas de sentir. A gente não pode ter todo o amor que a gente gostaria de ter e nem entregar tanto quanto a gente gostaria de entregar, mas o amor é uma vivência necessária, e não existe uma única forma de amar. Como qualquer pessoa, sem o amor eu não paro de pé – ele pode organizar outros afetos”. 

Sobre o Fliaraxá

A CBMM apresenta, há 12 anos, o Festival Literário Internacional de Araxá, um festival literário com atividades acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência. Toda a programação é gratuita, garantindo a democratização do acesso. O Fliaraxá tem, também, o patrocínio do Itaú, da Cemig e do Bem Brasil, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Participam, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras. Todas as atividades do Festival são gratuitas, com a curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias e Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva.

Serviço

12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 19 a 23 de junho de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Programação presencial na Fundação Cultural Calmon Barreto (Praça Artur Bernardes, 10 – Centro), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliaraxa
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: imprensa@fliaraxa.com.br
Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002