
Por Laura Rossetti
Foto por @alnereis
Foi parafraseando o educador Paulo Freire que o ator Odilon Esteves deu início à sua palestra cênico-literária, ao afirmar que a leitura de mundo é anterior à leitura dos livros. “Desde que a gente nasce, tudo que nos chega, nos cerca e nos rodeia vai formando nosso olhar. O tom de voz das pessoas que cuidam da gente, se existe ou não música naquele meio onde a gente vive, as cores, o lugar onde a gente mora, a natureza: tudo isso vai compondo a forma como a gente percebe o mundo”, refletiu Odilon, que apresentou a primeira sessão da sua palestra autoral, “Para abrir outras janelas”, na manhã desta sexta-feira, 3/10, no 13.º Fliaraxá.
Nascido em Novo Cruzeiro, no interior de Minas Gerais, o ator contou ao público sobre seus primeiros contatos com a literatura, através da escola. Uma professora apresentou aos alunos a coleção Vaga-Lume, uma série de livros de aventura voltada para o público infantojuvenil. “Quando eu conversava com meus colegas no recreio ou na volta pra casa sobre o livro que estávamos lendo, para mim foi uma descoberta muito espetacular a de que cada colega meu imaginava aquela história de um jeito. A maneira como se percebe o mundo e, portanto, como se percebe um livro, para cada um, era única. Cada um tinha sua sensibilidade”, contou Odilon. Como não havia livraria em sua cidade, ele passou a esperar ansiosamente pelos livros encomendados. “E a cada semana uma nova janela se abria, uma nova paisagem se revelava e também um novo mundo completamente desconhecido para mim.”
Mostrando que a literatura habita muitos lugares além dos livros, Odilon destacou a beleza das letras de músicas populares brasileiras, em especial, das composições de Chico Buarque. O ator interpretou, à sua maneira, o texto de canções como “Valsinha”, “Valsa brasileira” e “Sob medida”, para um público encantado ao perceber o quanto o sentido das letras mudam de acordo com os tons e as intenções colocados na fala. “O que chamo de transpôr [um texto] para a oralidade é quando você tenta trazer essa subjetividade de cada leitor”, explicou.
Ao longo de sua fala, Odilon presenteou o público com lampejos de sua paixão pela leitura, pelos escritores e pela literatura brasileira, citando autores como Clarice Lispector e Graciliano Ramos e, ainda, escritores contemporâneos que estavam presentes na plateia: Madu Costa, Marcelino Freire e Leo Cunha, por exemplo. O ator interpretou um texto de Mário Quintana, “Emergência“, um poema cujo último verso sintetiza com maestria a vocação da arte para libertar: “Quem faz um poema salva um afogado”. Para Odilon, esta é uma metáfora “não só para os poetas, mas para os escritores todos e para os artistas que nos abrem tantas janelas, nos salvam de tantos afogamentos”.
Depois desta fala de introdução, Odilon deu ao público a chance de votar no escritor cuja obra seria interpretada em seguida. O ator colocou em votação o nome de quatro autores de diferentes países: o alemão Bertolt Brecht, o português Fernando Pessoa, o francês Jacques Prévert e o urugaio Eduardo Galeano – que foi quem venceu, com grande vantagem sobre os outros.
A palestra completa já está disponível no canal do YouTube do Fliaraxá. Odilon Esteves apresenta a segunda sessão de “Para abrir outras janelas” neste domingo, 5/10 – também às 10h no Auditório da Biblioteca.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá acontece até dia 5 de outubro, domingo, no Centro Cultural Uniaraxá. O Festival tem mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.