
por Gabriel Pinheiro
Artistas do cenário do hip hop e do slam de Araxá debateram a cena cultural araxaense em mesa no Auditório da Biblioteca
A cena do rap, do hip hop e do slam foi o centro do debate na mesa “As encruzilhadas entre o rap e a literatura”, que contou com a participação de Lays Santos, Day MC e Santos MC, com mediação do curador local deste 13.º Fliaraxá, Carlos Vinícius. O mediador começou a conversa resgatando o tema deste 13.º Fliaraxá, “Literatura, encruzilhada e memória”. “A gente vive numa encruzilhada nesse país, há um tempo. E vocês estão, de fato, numa das encruzilhadas mais verdadeiras, que é a rua, o ‘corre’, o dia-a-dia. Eu queria que vocês falassem sobre essas encruzilhadas e o porquê continuar nelas?”.
Lays Oliveira abriu as respostas comentando: “Eu acredito que a gente continua pelas pessoas novas que estão chegando e para rememorar quem já não está no ‘corre’ por algum motivo. Esses espaços são quilombos. Se ainda faz sentido não concordar com o que está posto, ir pra outro lugar, construir outras realidade, é por isso que a gente continua”. Na sequência, a palavra foi de Santos MC: “Eu entendo que não tem encruzilhada maior do que do artista que quer viver da sua arte. Na verdade, ele não aguenta viver sem arte mas ainda não consegue dedicar todo o seu tempo pra isso”, destacou. “É essa vida-dupla que a gente vive”, acrescentou o convidado.
Day MC falou sobre a importância de abrir caminhos: “Eu acredito que, apesar de todas as dificuldades, eu continuo pelo peso de muitas vezes ser a primeira. Eu fui a primeira mulher a ganhar uma batalha de rap em Araxá. Esse peso de ser a primeira mulher, ser a primeira mulher negra, ele sempre vai estar comigo”. A convidada reforçou o peso da representatividade: “Eu, pequenininha, com seis anos de idade, gostaria de ter visto alguém como eu no palco, falando sobre as dores, os atravessamentos de ser alguém como eu. Como eu não tive, eu sei a importância de ser essa pessoa”.
Carlos apresentou para o público o que é o Slam: “Uma batalha de poesia falada que acontece na rua, sem uma grande estrutura, com a vontade de falar e compartilhar poesia. (…) A gente tá falando de jovens que estão indo pra rua pra falar de escrita, de literatura, pra vivenciar isso na pele, no suor”. O mediador seguiu norteado pelo tema desta edição do festival, perguntando para os convidados sobre suas memórias, suas boas memórias. “O slam fez com que eu estudasse mais. Graças ao rap, graças ao slam eu estive em lugares que eu nunca imaginei estar. De onde eu vim, eu sou a primeira pessoa a estar numa universidade”, destacou Day MC.
Para Lays, “São estes momentos de pura beleza que fazem a gente continuar. São fragmentos de memória”. Já Santos MC comentou a dificuldade de resumir apenas uma memória. “Acho que o primeiro slam que participei como competidor. Era uma coisa muito nova acontecendo na nossa cidade”. “A cena de Araxá existe e respira cultura todos os dias. (…) A gente tá dedicando nosso tempo de vida a fazer algo pela rua”, concluiu Carlos Vinicius.
“Quando a gente tá falando que o hip hop salva, a gente tá falando sobre jovens que vão pra rua fazer um trabalho que o estado nega. São jovens se organizado pra dar acesso à cultura, a espaços de saúde mental”, declarou o mediador, reforçando a força do movimento hip hop entre a juventude brasileira. Em seguida, Santos MC fez uma provocação para dentro do hip hop: “A gente tem uma responsabilidade muito grande. O hip hop nasce dentro da população periférica, ele nasce da população preta. A gente não pode fechar os olhos para pautas como a homofobia. Enquanto mestre de cerimônia, que é um pilar da cultura hip hop, eu não posso permitir que isso aconteça”.
Day MC comentou que o movimento hip hop é como o Sankofa: “É importante o estudo, saber de onde o movimento surgiu. É sobre a ancestralidade. Olhar para trás para poder pegar a força e o conhecimento para continuar. Hoje em dia eu vejo um esvaziamento muito grande da nossa cultura”. Já Lays reforçou que quanto mais unido, melhor é pro movimento hip hop.
Ao fim da conversa, Carlos Vinicius celebrou a potência do encontro desta tarde. “Quando a gente tá falando de memória nesse festival, de encruzilhada, a gente tá falando da potência desse palco. (…) Queria ressaltar o quanto o trabalho de vocês é importante pra nós. Eu sinto que é um privilégio enorme compartilhar essa mesa com vocês. Isso é importante para Araxá, pro Brasil, e para todo o movimento”.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita