
Araxá, no coração de Minas Gerais, acaba de projetar mais voz literária para o cenário nacional. A escritora e cineasta Lisa Alves conquistou o Prêmio Cepe Nacional de Literatura 2025, na categoria Infantojuvenil, com o romance “A menina que não queria ver Deus”. A obra, que será publicada pela Cepe Editora e garantiu à autora a premiação de R$ 20 mil, reafirma o lugar de Lisa entre os nomes mais inventivos da literatura contemporânea brasileira.
O Prêmio Cepe foi instituído em 2003 pelo Governo de Pernambuco, com o objetivo de valorizar e difundir a literatura brasileira contemporânea. É realizado anualmente pela Cepe Editora, uma das editoras públicas mais ativas do País, ligada à Empresa Pernambuco de Comunicação (EPC).
“A menina que não queria ver Deus”
O livro premiado acompanha Maria Antônia, uma criança de 11 anos, que, em meio a ausências e silêncios do mundo adulto, busca respostas na filosofia, na mitologia e nas histórias de sua avó. Em suas orações, pede que Deus a ouça, mas não se revele — uma metáfora delicada sobre a infância diante dos mistérios, medos e das potências da vida. A narrativa foi descrita pelos jurados como “sensível, profunda e corajosa”, destacando a maturidade estética de Lisa no gênero infantojuvenil.
“Uma trajetória marcada pela experimentação”
Nascida em Araxá, em 1981, Lisa Alves construiu uma carreira plural, transitando entre literatura, cinema e artes visuais. Estreou na poesia com “Arame farpado” (2015) e ganhou destaque nacional com o projeto transmídia “Quando tudo for possível” (2022), no qual som e imagem ampliam os sentidos da palavra escrita, explorando a poética da lesbiandade. Em 2025, lançou o impactante “Jardim de pragas”, pela Editora Patuá, obra que reinterpreta as dez pragas bíblicas como metáforas íntimas e coletivas de resistência e memória.
No audiovisual, a escritora assinou roteiros e direções premiadas: o curta “Sou indesejável” (2018) recebeu o Prêmio Batoque no Festival Internacional de Cinema do Arquivo Nacional, e “Depois do sétimo dia” (2020) foi laureado no Fantaspoa. Recentemente, realizou “Inventário de desmemórias” (2025), curta de animação produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo de Araxá.
Do interior mineiro ao mundo
Além de sua produção artística, Lisa atua como resenhista da revista portuguesa Incomunidade e coeditora do portal cultural espanhol Liberoamérica, reforçando a circulação internacional de sua obra. Sua escrita, marcada por imagens cortantes e um mergulho na memória feminina, traz um olhar de Araxá para o mundo, mas sempre enraizado em sua vivência local e em sua história familiar.
Reconhecimento e futuro
A conquista do Prêmio Cepe insere Lisa Alves no rol de escritores brasileiros distinguidos por uma das mais importantes premiações literárias do País. Para a autora, que já transitava entre a poesia experimental e o cinema independente, o prêmio representa também um novo horizonte: a literatura infantojuvenil como campo fértil de invenção e de diálogo com leitores em formação.
Seja pela força imagética de seus poemas, seja pela experimentação audiovisual ou pela delicadeza com que conduz sua narrativa para jovens, Lisa Alves confirma-se como uma voz necessária: poeta, artista e contadora de histórias que transforma silêncios em palavra e memória em criação.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita
Foto: Fernando Rabelo