
A possibilidade de reinventar o passado por meio da literatura foi tema de mesa que reuniu quatro escritoras convidadas deste Fliaraxá
A última mesa desta sexta-feira do 13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá – reuniu quatro autoras no palco do Teatro CBMM. A mediadora Taiane Santi Martins recebeu Eliane Marques, Geni Nuñez e Myriam Scotti para uma conversa com o tema “Escritas que reinventam o passado”.
Taiane abriu a conversa direcionando uma pergunta para Eliane Marques: “Esse reinventar o passado no seu trabalho também é reinventar a linguagem?” “Geralmente nós pensamos que existe uma realidade dada pronta e que o trabalho de linguagem é apenas nomear esse lugar. (…) A palavra, a linguagem também pode inventar”, comentou Eliane Marques. “O passado, especialmente, se atualiza no presente. E a literatura atualiza o passado modificando-o”, complementou. A escritora, então, teceu comentários sobre seu romance “Louças de família”, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. “Vejam como essa literatura vai reinventando esse passado”, ela destacou acerca do romance. “Eu penso a minha literatura com essa função de reinvenção desse passado, de atualização desse passado.”
A mediadora comentou sobre o trabalho de Geni Nuñez, da importância do corpo e da palavra na obra da escritora convidada. Geni, então, refletiu: “Tenho pensado muito nos últimos tempos sobre essa questão do movimento. Sobre novas formas de olhar pro tempo”. Nuñez prosseguiu: “Pensar nessa dimensão da escrita é uma resposta pela alegria. Quando a gente ousa ser não só aquelas sobre quem se escreve, mas aquelas que são autoras, a gente também está utilizando a nossa palavra, a nossa alegria, a nossa própria existência como uma contestação contra aquilo que disseram que a gente seria”.
Taiane, em seguida, perguntou para Myriam Scotti sobre a centralidade de Manaus e da Amazônia em seu trabalho, pensando nesse sentido de reinvenção. “Revolvo a terra através das minhas pesquisas históricas para trazer à tona uma outra história da Amazônia, pra mim mesma e para as outras pessoas”, respondeu Scotti. “Tento, na minha literatura, desorganizar aquilo que foi dito para que as pessoas redescubram aquilo que foi silenciado”, complementou.
Na sequência, Taiane Santi Martins perguntou para Eliane Marques sobre seu novo livro. “É um momento muito feliz da minha vida estar no processo de escritura desse novo livro que se chamará ‘Guanxuma’.” Marques, então, compartilhou com o público presente a profunda pesquisa histórica que ela tem realizado na escrita desse novo trabalho. Eliane também leu um trecho de seu mais novo recente livro publicado, a obra poética “Sílex”.
“A palavra também é esse espaço onde a gente pode dançar de alguma maneira, pode cantar. Esse meu próximo trabalho tem a ver com essas interfaces”, comentou Geni Nuñez sobre seu projeto atual. Logo depois, Myriam Scotti comentou sobre “Sol abrasador prepara solo fértil”, seu trabalho mais recente, um volume de contos que mergulha na complexidade da Amazônia para revelar, em narrativas intensas, os dramas humanos ocultos sob a vastidão da floresta. “Preciso do outro para chegar a mim”, Myriam declarou, reforçando o interesse de seu projeto literário de olhar para as histórias silenciadas de sua terra natal.
“Reinventar o passado também passa por ressignificar o amor?”, Taiane perguntou para Geni Nuñez. “Me assusta quando uma única verdade se mostra plausível no mundo. (…) A monocultura é antagônica à floresta, à diversidade. Essa imposição de um único jeito de amar vem muito mediada pelo racismo religioso. (…) Gosto de pensar nessa comunidade de invenção e de criação, que tem essa dimensão dos afetos, que nos habita, que nos perpassa”, declarou a escritora indígena.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita