Por Fernanda Martins

Autores locais revelam as encruzilhadas históricas, culturais e sociais que atravessam a cidade e inspiram novas narrativas

Os ecos de Araxá preencheram o Teatro CBMM na noite desta terça-feira (1/10), na mesa de abertura do 13.º Fliaraxá. O encontro, intitulado “Ecos de Araxá: lembranças e horizontes”, reuniu os autores Lisa Alves, Carlos Vinícius Santos e Cesar Campos, em mediação de Rafael Nolli. Entre memórias, ancestralidades e provocações, a cidade se apresentou como encruzilhada: de povos, de histórias, de culturas e de futuros. O tema central trouxe lembranças e horizontes em sintonia com os sons históricos da cidade, que seguem contemporâneos, além de globais.

Rafael Nolli iniciou a conversa lembrando o lugar geográfico de Araxá no Alto Paranaíba (sem esquecer a origem no Triângulo Mineiro), como ponto de passagem, água corrente e lugar de encontros. Nesse contexto, ele trouxe a imagem das escolas de Araxá que visitou como espaços de caminhos possíveis. Ele explicou que as encruzilhadas em Araxá não estão apenas no mapa. Elas estão também no modo como as crianças enxergam o mundo (de um lado, uma árvore florida; do outro, a terra seca).

Lisa Alves trouxe o conceito de encruzilhada em sintonia ao retorno à cidade e como a pandemia de Covid-10 despertou novos horizontes sobre suas raízes. “No mundo pós-pandêmico eu parei para refletir sobre essa cidade”, contou. A escritora lembrou quilombos, migrações e a força simbólica da água que corre em Araxá e do simbolismo da terra. Para ela, o desafio é pensar qual o papel do escritor nesse espaço de tantas camadas. “Eu não sei o caminho, mas sei que temos muito o que falar e escrever”, afirmou.

Carlos Vinícius Santos recuperou a própria trajetória como escritor premiado, há 13 anos no Fliaraxá, lembrando que a cidade nasce de encruzilhadas. Citou Sankofa, a sabedoria africana que propõe olhar para o passado como forma de avançar, e evocou versos de Emicida: “Viver é partir, voltar e repartir”. Em sua fala, destacou que as escolas e os slams revelam talentos que se entrelaçam com a história do festival. “O prêmio de redação mostra que as encruzilhadas se encontram com o tempo, e é nesse movimento que a literatura segue viva.”

Já Cesar Campos trouxe uma reflexão sobre o peso histórico das encruzilhadas: dos povos indígenas de Araxá ao quilombo do Ambrósio, das mortes em frente à igreja às mulheres fortes como Dona Beja, das águas cristalinas às lamas. “O movimento anterior à encruzilhada é um caminho. Quando três ou quatro caminhos se cruzam, estão fervendo, borbulhando”, disse. Para ele, o desafio é estender as mãos diante da sede de cultura que se revela nas escolas e nas ruas. “Ninguém gosta de ler? Ou será que não somos nós que não estamos oferecendo o suficiente?”, provocou, lembrando o esforço dos membros da Academia Araxaense de Letras em chegar até toda a população e a recorrente demanda da população da cidade por cultura.

A mesa se encerrou com leituras de textos. Lisa Alves trouxe trechos de Jardim de Pragas. Carlos revisitou a redação escrita (e premiada) treze anos atrás, em que já questionava o papel da literatura como instrumento de transformação. O gesto reafirmou a proposta central da noite: ler o mundo é um ato de atravessar encruzilhadas e escolher caminhos, ainda que incertos, mas sempre coletivos.

Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.

Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.

Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita