por Gabriel Pinheiro

A convidada internacional Léonora Miano se reuniu com Jamil Chade na mesa Cartografias da perda

A autora franco-camaronesa Léonora Miano se reuniu com o escritor e jornalista Jamil Chade na esperada mesa “Cartografias da perda” no fim desta tarde de sexta-feira no 13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá. Jamil Chade abriu a conversa apresentando Léonora Miano como “uma das vozes mais potentes da literatura em língua francesa contemporânea”. O jornalista destacou temas como a diáspora, o exílio e a imigração na obra de Miano: “Temas tratados com densidade literária e rigor político. O legado persistente do colonialismo, o racismo estrutural e a invisibilidade das minorias na França e na Europa contemporânea”.

Chade apresentou ao público sua experiência vivendo durante um ano nos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump e como temas comuns à literatura de Miano se refletem naquilo o que ele observou no horizonte norte-americano nesse período: o racismo, a migração e a invisibilidade das minorias. Em seguida, ele perguntou para sua colega de mesa: “Miano, você propõe pensar a experiência de afrodescentes na Europa a partir de uma identidade própria, que não é nem totalmente africana, nem totalmente europeia. Quais os principais desafios para afirmar essa identidade no contexto político atual?”

Léonora Miano falou sobre a ideia de Afropea, trabalhada por ela, que seria um lugar utópico no qual os descendentes de subsaarianos romperiam com a categoria de raça criada pelo Ocidente desde o século 15 para enxergá-los como inferiores. A escritora aborda a questão no livro “Afropea: utopia pós-ocidental e pós-racista”, publicado no Brasil. “É um grande desafio hoje para os afrodescendentes negros na Europa lidar com os identiarismos forçados, essa suposta pureza identitária que você tem que provar para poder se expressar”, declarou Léonora.

“Como a literatura pode contribuir para criar uma legitimidade desses espaços de identidade?”, prosseguiu Jamil. Léonora, então, refletiu sobre a criação de seus próprios personagens em seus livros no passado. Sobre como já foi questionada sobre a criação de personagens negros que viviam na Europa enquanto cidadãos, com autonomia, e como isso foi visto como irreal e que, inclusive, poderia prejudicar sua carreira de escritora internacional. “Na questão literária é necessário quebrar os silêncios e fazer a narração desses relatos escondidos e dissimulados.” A franco-camaronense prosseguiu: “Há toda uma rede de relatos que a literatura pode se apoderar para restituir à Europa a história desses afrodescendentes”. 

Jamil refletiu sobre um movimento de retomada de uma hierarquia racial observada por ele nos Estados Unidos, a partir do aumento assustador dos discursos de ódio. “Você abre a possibilidade para que o ódio seja, mais uma vez, um instrumento de estabelecimento dessa hierarquia”, ele apontou.

Por fim, Léonora Miano falou sobre sua relação com o Brasil: “Todo esse assunto é muito forte no Brasil, que tem uma população muito diversa, com muitos afrodescendentes. A gente tem muito o que conversar. O que me interessa quando venho aqui é confraternizar com essas experiências afrodescendentes. Como que a gente pode confraternizar como seres humanos”. 

Sobre o 13.º Fliaraxá

O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.

Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.

Serviço:

13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá

De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo

Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliaraxa

Entrada gratuita