
Susana Bueno, Eduardo Lusvarghi, Renato Muniz Barreto e Carlos Vinícius Santos conversaram sobre a força da crônica como espelho do cotidiano
Hoje (2/10), as crônicas tomaram conta da programação do 13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá. A mesa realizada no teatro da Biblioteca da UniAraxá trouxe um clima de roda de conversa. “Cronista não discute, cronista bate-papo”, disse Susana Bueno, fonoaudióloga de profissão e cronista de coração, que mediou o encontro com Eduardo Lusvarghi, Carlos Vinícius Santos e Renato Muniz Barreto.
Susana abriu o diálogo lembrando que o olhar do cronista se alimenta do cotidiano. “Eu até brinco com amigos que precisam tomar cuidado com o que fazem perto de mim, porque podem virar personagem”, disse, arrancando risos da plateia.
Para Carlos Vinícius, integrante da curadoria local do festival, o caminho para o gênero começou no slam. “O movimento é uma crônica falada. É uma forma de discutir vivências e trazer a literatura como retrato do que sentimos e vivemos”, explicou.
Renato Muniz Barreto, autor de Um livro sorriu para mim, declarou o amor pela crônica. Lembrou Drummond, Sabino e outros grandes nomes mineiros e brasileiros, e situou o gênero como um dos mais lidos do país. “A crônica é querida porque dialoga com o dia a dia. É aquela que lemos no começo ou no fim do jornal, para mastigar melhor o conteúdo”, disse. Jornal foi também o início de sua trajetória: em 1987, a partir de um convite, começou a publicar semanalmente, acumulando mais de mil crônicas escritas. “O cronista não escolhe o tema, é o tema que escolhe o cronista.”
Já Eduardo Lusvarghi apresentou Fragmentos, obra lançada no Fliaraxá. Para ele, a crônica o “escolheu” sem que houvesse um plano. “Escrevi lembranças da infância em Araxá, histórias dos meus avós. Só depois percebi que eram crônicas prontas.”
O compromisso com a escrita também apareceu na fala de Carlos, que recordou sua primeira redação premiada no Fliaraxá há mais de dez anos. Citando Conceição Evaristo, disse que “os personagens nos traem”, e que a beleza da crônica é justamente revelar poesia no cotidiano. Ele refletiu ainda sobre os desafios atuais: “O filtro do que é realmente importante a humanidade perdeu. Um genocídio de milhares de pessoas, às vezes, é visto como um acidente de carro. A crônica nos obriga a confiar no sentimento diante do papel.”
O debate trouxe ainda provocações sobre o excesso de informações do presente. Renato lembrou que a ironia nem sempre é compreendida nos tempos atuais, enquanto Eduardo afirmou que a tecnologia não interfere em seus textos: “Escrevo para que minhas filhas conheçam o que vivi e as pessoas que encontrei pelo caminho.” Carlos, por sua vez, destacou que, mesmo nascido na era digital, aprendeu a equilibrar telas e rua, e hoje usa a tecnologia como ferramenta de escrita e leitura, sem abrir mão da experiência vivida.
Ao fim, ficou a ideia de que a crônica, seja falada, impressa ou digital, continua sendo ponte entre o cotidiano e a literatura, sempre no ritmo da vida.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita