
Por Laura Rossetti
Os escritores Ale Santos, Vinicius Neves Mariano e Sérgio Abranches estiveram juntos em uma mesa de bate-papo na tarde deste sábado, 4/10, no Teatro CBMM, dentro da programação do 13.º Fliaraxá. “Revisitar o passado, imaginar o futuro” foi a temática que norteou a conversa, mediada pela escritora Bianca Santana, que é também curadora desta edição do Festival.
Os autores começaram a mesa lendo trechos de seus livros. Ale Santos leu “A malta indomável” (HarperCollins Brasil, 2023), um “cyberpunk de ficção afrofuturista juvenil”, nas palavras do autor. Ale publicou diversas narrativas ficcionais embasadas na cultura afro-brasileira. Em seguida, Vinicius Neves leu um trecho de “A pele em flor” (Companhia das Letras, 2025), sua mais recente obra, formada por contos que exploram o florescer da negritude. Por fim, Sérgio leu um trecho do seu mais novo livro, “A franja do fim do mundo”, que está prestes a ser lançado pela Faria e Silva Editora.
Bianca destacou que o tema da mesa foi inspirado no Sankofa, um símbolo Adinkra que representa um pássaro olhando para trás – e que compõe a identidade visual do Fliaraxá. “Esse símbolo nos convida a olhar para trás para a gente poder caminhar para o amanhã”, explicou a escritora. Para Ale Santos, os ficcionistas nem sempre revisitam o passado em suas obras, mas, ao contrário, criam uma realidade completamente diferente. “A ficção é disruptiva. Não necessariamente ela quer pensar em como vai ser a consequência do mundo de hoje.” Para o autor, a literatura ficcional muitas vezes parte de questionamentos como “E se for outro planeta? E se as regras forem outras? E se o passado for outro?”
“Quem eu seria se a gente, coletivamente, não tivesse sido soterrado?”, indagou-se Vinicius Neves, fazendo referência ao passado de violência infligida à população negra no Brasil. Para o autor, revisitar o passado é essencial e urgente. “Eu não sei exatamente o que eu busco quando tento fazer essa revisita, mas não dá mais pra adiar o nosso passado”, disse, fazendo menção à expressão popular de que não se pode adiar o futuro. “Mesmo sem saber exatamente o que eu busco, eu faço questão de estar lá investigando e desenterrando outras coisas”, disse Vinicius.
Sérgio destacou em sua fala o passado e o futuro em relação a questões ambientais, que é o assunto de “A franja do fim do mundo”, uma distopia cibernética sobre o colapso climático global. “Quando a gente pensa em mudança climática, se a gente olha o passado das análises iniciais no início dos anos 90, as previsões eram todas para o final do século, se a gente não tomasse determinadas atitudes. Algumas coisas poderiam acontecer em 2050. Mas todas as previsões aconteceram, e estão acontecendo neste momento, além de algumas novas que não tinham sido previstas como, por exemplo, o aquecimento das águas de todos os oceanos ao mesmo tempo. Então, na verdade, o passado, no fundo, já invadiu o presente, e o próprio futuro”, considerou o autor.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre até domingo, 5/10, no Centro Cultural Uniaraxá, com mesas de bate-papo, oficinas, lançamentos de livros, atividades infantojuvenis, entre outros. Todas as atividades do Festival são gratuitas. Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita