
por Gabriel Pinheiro
Mesa debateu ao poder revolucionário da poesia com Marcelino Freire, Henrique Marques Samyn e nina rizzi
“Todos falam de um Brasil que não é um Brasil central, que não é um Brasil hegemônico”, destacou o mediador Sérgio Abranches na apresentação dos escritores convidados da mesa “A revolução será poética” – Henrique Marques Samyn, Marcelino Freire e nina rizzi – no Teatro CBMM no 13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá.
Sérgio Abranches trouxe, logo de início, o tema da mesa, “A revolução será poética?” para a reflexão dos autores convidados. Henrique Marques Samyn comentou sobre a relação entre a poesia, a revolução e a ancestralidade: “Posso dizer que a revolução pode ser poética. Mas apenas porque eu passei a entender que a literatura poderia sim ter um sentido, desde que eu não escrevesse sozinho, mas a partir de uma ancestralidade”. Na sequência, Marcelino Freire declarou: “Se estou aqui é por causa da poesia”, comentando sobre como a poesia já fazia parte de sua vida antes mesmo de saber o que era poesia. Segundo Freire, ela já estava na fala, na musicalidade da mãe. “Tem poesia na vida de vocês?”, ele perguntou ao público. “Então vocês são revolucionários!”, concluiu.
Para a escritora nina rizzi, essa revolução poética passa pela experiência enquanto mulher negra. “A revolução tem sido poética. Desde que o nosso povo pisou aqui, desde que foi arrancado de suas terras. Tem sido poética quando a gente ginga, quando a gente sincretiza nossos orixás com santos católicos. (…) Tem sido poética desde que a gente começou a contar as nossas histórias.” A escritora prosseguiu: “Quando eu ouvi Racionais MCs, eu vi que aquilo era literatura, que contava alguma coisa. (…) A literatura pode ser algo que conta da gente. Que fala da minha mãe, que fala de mim, quiçá, fala de vocês. Então, é revolucionário. O nascedouro de uma nova linguagem”.
Sérgio Abranches pediu para que Henrique Marques Samyn comentasse sobre seu livro “Levante”: “O livro nasce sem que eu esperasse que ele nascesse”, comentou o poeta. “O que trouxe a revolução na minha vida foi o fato de que me tornei professor da UERJ e entendi que preciso retornar para universidade pública aquilo o que ela tinha me dado. E aí comecei a estudar literatura negra, o que eu não tinha estudado antes. Na minha época de estudante, não se conseguia estudar literatura negra. Eu estudava autores negros sem saber que eram eutores negros. Como Machado de Assis e Lima Barreto”, ele destacou. Segundo ele, “Levante” começou a nascer a partir dessa possibilidade de estudo e mergulho na literatura negra enquanto professor. “Entendi que havia uma outra literatura possível.”
Marcelino Freire comentou sobre alguns de seus trabalhos, como “Rasif – Mar que arrebenta” e “Escalavra”. “Tem uma coisa que a poesia me ensinou é ver o avesso. Gosto de ver o avesso das palavras.” Ele prosseguiu: “Digo no ‘Escalavra’ que ‘A próxima revolução também será poética’. Toda revolução será poética. Você não vê esses regimes totalitários falarem em poesia, falarem em alegria, falarem em infância. O vocabulário deles é perseguição, bolsa de valores, economia”.
Ao fim, nina rizzi celebrou a poeta mineira Líria Porto, compartilhando com o público uma história emocionante de apoio e cuidado. “Quero ser esse luzeiro na vida das pessoas que vocês são na minha.” Logo depois, ela comentou sobre a influência de Eliane Marques em seu trabalho. “A maneira como eu escrevo os meus versos também é uma arma poética.”
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita