
Por Denise Fernandes
Será que existe algum romance que não pode ser escrito? Esse foi um dos temas que abriram a segunda noite de debates do Fliaraxá de quinta-feira, 12 de maio. Com participação de Ana Paula Maia e Socorro Acioli e mediado por Lilia Guerra, “Tecendo tramas (im)possíveis: a escrita do romance” abordou temas que são pujantes na nossa sociedade e que não eram possíveis 15 anos atrás.
Socorro Acioli, uma das participantes da mesa, afirma que “é muito diferente escrever um livro em 2022, do que quando comecei em 2006. Até porque as pautas estão mais abrangentes e fazem parte da pauta do momento”. Para ela, o processo de tecer um texto, ou escrevê-lo, exige organização e disciplina, já que o processo é longo. Mas ao mesmo tempo é cheio de coincidências que deixam o processo mais leve.
E ela sabe do que está falando. Socorro Acioli é jornalista e tem PhD em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2013, venceu o Prêmio Jabuti com o livro Ela tem olhos de céu. Foi aluna de Gabriel García Márquez, e a edição em inglês do seu livro A cabeça do Santo foi escolhida como um dos 50 melhores livros de 2017 pela New York Public Library.
Ana Paula Maia tem um processo de escrita diferente e até rápido. Quando um livro está sendo publicado, outro já está sendo escrito. A escritora não se incomoda com rótulos e, para ela, a literatura é um caminho de libertação. “Eu escrevo exatamente o que eu quero. Enquanto as pessoas estavam indo para um caminho, eu estava indo para outro, por isso para mim não existem tramas impossíveis.”
Ana Paula Maia tem oito romances publicados, entre eles, Assim na terra como embaixo da terra, Enterre seus mortos e De cada quinhentos uma alma e é Bicampeã do Prêmio São Paulo de Literatura.
A literatura brasileira hoje sob o olhar de Maria Firmina dos Reis
No último debate da noite, “As Firminas da literatura brasileira”, as escritoras Eliana Alves Cruz e Geni Guimarães, mediadas por Esmeralda Ribeiro, fizeram um paralelo entre a escrita de Maria Firmina dos Reis, Patrona desta edição do Fliaraxá, e seus livros como forma de resistência.
A maranhense Maria Firmina dos Reis, celebrada neste ano pelo bicentenário de seu nascimento, nasceu no contexto da Independência do Brasil, em 1822. Naquela época, ela já levantava sua voz, como mulher e negra, contra a escravidão e contra os moldes da Independência brasileira, que, mesmo se tornando nação, manteve o comércio negreiro.
Assim como Maria Firmina dos Reis, a literatura de Geni Guimarães tem como objetivo promover a conscientização de crianças, negras e brancas, sobre questões como o racismo. “As crianças de hoje são o futuro, os adultos de amanhã, e nelas temos uma possibilidade de mudança. O que nós estamos fazendo aqui e agora é abolição”, destaca a escritora, que tem três livros infantis publicados.
Ela ainda ressalta que acredita na literatura e no seu papel transformador, pois, “quando falamos através dos livros, estamos plantando a verdadeira liberdade”, acredita Geni, autora de livros como A cor da ternura, que lhe rendeu o prêmio Jabuti.
Para Eliana Alves Cruz, escritora e jornalista carioca, olhar a biografia de Firmina é ver a importância do papel da literatura na história do País, e que, mesmo em tempos de escravidão, a linguagem é para todos.
Eliana, que é autora de romances como Água de barrela, O crime do cais do Valongo, Nada digo de ti, que em ti não veja e Solitária, é categórica ao afirmar que, mesmo ainda hoje vivendo em termos de racismo e preconceito, a literatura possibilita “escrever, existir, sonhar e pensar em finais diferentes”.
A escritora finaliza: “espero que a gente esteja construindo arte de uma forma agregadora. Que possamos celebrar a existência, mais que a resistência”.
Serviço: 10.° Festival Literário de Araxá – Fliaraxá
De 11 a 15 de maio, de quarta-feira a domingo
Tema: “Abolição, Independência e Literatura”
Formato phygital – transmissão em tempo real pelas plataformas do Festival: Youtube e Facebook – @fliaraxa
Locais: Grande Hotel, Teatro Municipal Maximiliano Rocha, Parque do Cristo e Fundação Cultural Calmon Barreto.
Informações: @fliaraxa – www.fliaraxa.com.br