Na mesa “Jornalismo e Literatura”, autores revelam como a reportagem e a criação se misturam na arte de narrar o mundo com duas paixões e um único amor: a escrita

O início do dia 4 de outubro começou com a mesa “Jornalismo e Literatura”, que reuniu Bruno Inácio, Flávio Ramos e Velber Viana sob a mediação de Silla Silva, no auditório da Biblioteca da Uniaraxá. A mediadora abriu a conversa com uma síntese perfeita do encontro: “Duas paixões e um único amor. As paixões são o jornalismo e a literatura; o amor em comum é a escrita”.

Bruno Inácio iniciou a fala relembrando as vivências no jornal impresso e os muitos caminhos da reportagem. Foi durante uma cobertura policial que lhe surgiu a ideia de escrever sobre um jornalista com uma vida dupla. “Foi horrível”, contou entre risos. Da experiência nasceu a vontade de narrar os silêncios e as dores cotidianas, que deram origem ao livro “De repente vem um som”. “São situações familiares, de reflexão, de reviver traumas. Tudo isso se transforma em conto.”

Velber Viana, por sua vez, reconhece que levar o jornalismo para o território da literatura é sempre um desafio. “Traduzir fatos em poesia é herança do jornalista que ainda mora dentro de mim”, disse. Já Flávio Ramos refletiu sobre essa linha tênue entre o repórter e o escritor. “A vida real muda a nossa escrita. Dalton Trevisan, que perdemos este ano, trabalhou como repórter policial. Na minha visão, esse ‘homem comum’ que ele traz foi moldado por esse contato com o mundo. A vida real nos muda, e isso é combustível para os nossos textos.”

Bruno contou que “roubou” algumas técnicas do jornalismo para a literatura, como o uso de frases curtas. “Fiz uma oficina com Marcelino Freire, e ele me disse: ‘Se você gosta de frases curtas, escreva curtas; mas com precisão’. Hoje levo isso tanto para a literatura quanto para o jornalismo literário, que é o espaço onde mais gosto de transitar.”

Flávio relembrou a origem da sua relação com os livros. “Nasci dentro de uma biblioteca. Minha mãe era bibliotecária, e quando eu aprontava na escola, ela me fazia ler livros até a hora de ir embora. Foi assim que li a coleção inteira de Monteiro Lobato. Aí descobriram por que eu era o menino mais levado da escola”, contou, arrancando risos do público.

Velber destacou como o jornalismo influencia (e às vezes atrapalha)  a sua escrita poética. “A mão do jornalismo me ajuda muito na edição, mas me atrapalha no início. Às vezes me pego preso às palavras de uso diário, e preciso calar o repórter para ouvir o poeta. O jornalismo me ajuda em parte do processo e me trava em outras.” Para ele, a literatura é um refúgio do cotidiano e uma forma de traduzir o mundo com mais sensibilidade.

Questionados sobre o excesso de informação e o papel do artista hoje, Velber acredita que nunca foi fácil. “O artista precisa ser fiel às suas próprias motivações.” Bruno complementou dizendo que a dificuldade está na normalização do trabalho exaustivo. “Vivemos cansados demais para criar. Existe inspiração, mas a criação nasce da dedicação.” Quando não está intermediando debates políticos, ele transforma o cotidiano em versos. “É ali que a poesia aparece.”

Para Bruno, a maior dificuldade está em mudar o tom entre o texto jornalístico e o literário. “Quando se pede uma escrita lúdica, é preciso desligar uma chave e ligar outra. É nesse movimento que criamos uma identidade literária própria, uma digital que distingue o autor.”

Encerrando a mesa, Silla destacou o olhar atento do jornalista como ponto de partida para a literatura. “Nós, jornalistas, observamos o cotidiano e o transformamos em pauta. É desse olhar que nascem as histórias.”

Sobre o 13.º Fliaraxá
 O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.

Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.

Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo)
Programação digital: YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita