
Mesa mediada por Gabrielly Sierra celebra conexões, criatividade e afeto na formação de leitores
O tema da mesa regional já traz instantaneamente um acalento. E não é para menos. “Pontes narrativas na literatura infantil” convidou o público para uma viagem pelo imaginário do gênero que constrói histórias, caminhos e acolhimentos. A conversa, realizada no 13.º Festival Literário Internacional de Araxá, no auditório da biblioteca da Uniaraxá, foi mediada por Gabrielly Sierra, educadora que atua com projetos de leitura e formação de professores. Participaram da mesa a ilustradora Luciana Olivier, a escritora de contos e poemas infantis Ina Arefiev, a autora Laura Gouveia e a educadora e escritora Dilse Aparecida Rosa.
Para iniciar a conversa, Gabrielly leu um trecho de Guimarães Rosa: “O real não está nem na saída e nem na chegada… ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. A partir dessa reflexão, as autoras começaram a tecer suas próprias travessias literárias. Dilse trouxe para o centro da mesa o poder da contação de histórias com o livro Alguém para morar no meu telhado, de Laura Gouveia. Antes de começar, convidou duas crianças da plateia para o palco e disse que “aquela história seria contada especialmente para elas”. Com a ajuda do filho, apresentou o livro em uma “TV de papel reciclável”, feita para ilustrar as páginas da obra.
As crianças sentaram próximas ao palco e acompanharam a narração embalada por uma cantoria cheia de afeto que arrancou sorrisos do público. A história falava sobre a busca por morada, e ao final, Quirino — o protagonista — aprendeu que “só podemos ser lar para alguém quando somos um bom lar para nós mesmos”. A inspiração para o livro surgiu de uma viagem de Laura a Lavras Novas, onde o encantamento pelas pessoas e pela ideia de pertencimento se transformou em narrativa.
O momento emocionou Ina Arefiev, que viu na cena a materialização do conceito de ponte. Para ela, a palavra “conexão” sempre atravessou sua trajetória. “Descobri que é a conexão com as pessoas que me faz sentir em casa.” Apesar de escrever desde jovem, nunca havia pensado em publicar até ouvir de um professor: “Você é uma excelente escritora”. Essa afirmação foi o impulso que a levou a acolher a escritora que sempre existiu dentro dela.
A ponte seguinte nasceu do encontro entre Ina e Luciana. Um texto sobre um chá de limão siciliano em Portugal inspirou a ilustradora. “Li e não consegui tirar aquele texto da cabeça. Precisei desenhar algo. Essa ponte mudou a minha vida”, contou Ina. O encontro entre as duas deu origem ao livro A vassoura de bruxa da casa da vovó, lançado durante o Fliaraxá. Luciana lembra que tudo começou com um café: “Conversamos muito, e quando ela leu um texto de 2019, nós duas choramos. Quando acabou, eu disse: isso daria um livro.”
Luciana compartilhou também sua trajetória como ilustradora, que começou entre rabiscos em cadernos e muros. “Desenhava onde podia. Fui fazer Odontologia e tinha o melhor caderno de anatomia da turma”, brincou. O talento guardado aflorou quando uma amiga a convidou para ilustrar um livro — convite que mudou sua vida.
Laura, por sua vez, contou que sua escrita nasce da reconexão com a criança interior. “É como se eu conversasse com ela para extrair criatividade e transformar em palavras. Ontem, uma criança me disse: ‘tia, você é uma boneca’. Senti minha criança interior comemorando.” Foi em 2022 que ela escreveu a primeira história e, incentivada por um professor, decidiu publicar. “Cada história minha é um pedacinho de mim”, disse.
Encerrando a mesa, Dilse compartilhou um pouco de sua própria travessia. Criada em um orfanato, cresceu cercada por Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. “Tenho certeza de que, quando eu chegar ao céu, vou para a mesma ala que eles”, disse, arrancando risadas da plateia. “Toda a minha vida foi pautada pela palavra, e eu venci pela palavra.” Deixou ainda um conselho aos pais e mães presentes: “Conte histórias para o seu filho. Não tem história para contar? Conte a sua”.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita