
Por Fernanda Martins
Mesa mostrou como o gênero poético transforma dor e amor em caminhos de vida e literatura
Na tarde de hoje (2/10), o tema “A poesia, o ouro da literatura” reuniu as autoras Erilda Marques Pereira da Rocha, Mara Senna e Sonia Martins em uma mesa mediada por Iris Santiago, durante o 13.º Festival Literário Internacional de Araxá Fliaraxá. A primeira “pedra preciosa” a iniciar a conversa foi Erilda Marques, professora, compositora, escritora, doutora em Ciências e mestre em Educação, que define sua trajetória como “dos pés descalços à doutora”. Iris fez questão de dizer que sua função não era apenas mediar, mas sobretudo aprender com as convidadas e reconhecer os caminhos que os pés das poetisas trilharam.
Erilda contou que sua trajetória começou literalmente de pés descalços. O caminho, cheio de portas que se fechavam e outras que se abriam, só foi possível graças ao apoio da família e da comunidade. “A literatura salva de inúmeras formas. Fui a primeira da minha família a conquistar os diplomas de mestra e doutora. Tudo com apoio incondicional da minha mãe, meu pai, meus irmãos e da comunidade. O caminhar da gente é com as pessoas, e esse respeito eu carrego até hoje. Reconheço de onde eu vim e toda essa ancestralidade”, afirmou. Para ela, a literatura é também cura: “Quanto mais a gente lê, mais a gente aprende e aprende de todas as formas, da dor ao amor.”
Mara Senna destacou que todas as vivências podem se tornar poesia. “Se você procurar a minha formação como dentista nos meus livros, não vai encontrar nada. Mas é uma profissão em que se lida com medo, ansiedade, dor, e se escuta muita coisa. Acho que tudo isso contribuiu para a minha escrita. Não descarto nada na minha vida como instrumento. Tudo vira poesia”, disse.
Sonia Martins, por sua vez, falou da infância marcada pela falta de recursos para comprar livros. “Estudava de manhã e passava a tarde na biblioteca da escola. Não emprestavam os livros, então eu ficava lá, sozinha, lendo. Eu adorava os poemas de Humberto de Campos. Lia e chorava, emocionada com as palavras. Desde a infância gostava de ler, principalmente o meu guru, Guimarães Rosa. A literatura invadiu as minhas veias, o meu sangue. Gosto de fazer poesia, crônicas, contos e causos”, contou. Para ela, a poesia é “um ouro muito precioso dentro da literatura”.
As autoras também lançaram suas obras no festival. Erilda apresentou “Aldravia, a síntese poética”, inspirada na vida em diferentes espaços. Ela explicou que a aldravia é um movimento literário recente, criado em Minas Gerais, que propõe uma forma concisa e diferenciada de escrita. Sonia complementou dizendo que a criação do movimento surgiu dentro da Academia Marianense de Letras.
Mara falou de seus livros “Vésperas de Nada” e “Dias Poucos”, escritos durante a pandemia. “Eu gosto da tradição oral, de constatar coisas ditas como verdades. As vésperas de nada eram parte do cotidiano sem expectativas, dos dias poucos daqueles tempos obscuros. O livro não fala da Covid-19, mas da poesia como caminho para entender aquele período”, explicou.
Já Sonia apresentou “Alma Sertaneja”, obra que homenageia o homem do campo e os causos transmitidos por seus avós. “Muitas vezes, o pão colocado na mesa do rico não é lembrado em seu trajeto: arar a terra, semear, colher, triturar, embalar, assar. Quantas mãos foram necessárias? Este livro é uma homenagem ao sertanejo tão admirado por Guimarães Rosa”, disse. Ao final, destacou que a poesia é mais do que ouro: “Ela me ajuda a desabafar, arrancar do peito meus sentimentos”, resumiu, em uma partilha de vida e reconexão.
Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.
Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá Fliaraxá, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.
Serviço:
13.º Festival Literário Internacional de Araxá Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook @fliaraxa
Entrada gratuita