
Por Gabriel Pinheiro
Nesta sexta-feira de programação do 12.º Fliaraxá, três autores se reuniram para discutir a política do corpo, os olhares múltiplos para a realidade brasileira e a escrita de contos: Marcia Tiburi, Geovani Martins e Stefano Volp.
Stefano Volp abriu a conversa destacando que uma coisa em comum na escrita dos três participantes é o fato de todos trabalharem com escritas fortemente políticas. A partir dessa constatação, Geovani Martins comentou que estamos num momento em que a literatura brasileira conquistou uma diversidade como nunca antes. “Acho que isso é a grande sacada pra gente entender a riqueza do momento em que vivemos hoje. A nossa literatura alcança muito mais brasileiros hoje porque fala com muito mais brasileiros.” Ele destacou a potência de olhares que são múltiplos para múltiplas realidades.
Marcia Tiburi destacou que foi a literatura que a fez estabelecer uma outra relação com o próprio corpo — um dos temas primordiais de seu trabalho no campo filosófico. “O livro é um lugar de mediação e de subjetivação.” Para a filósofa, “talvez só com a literatura, a dança, o cinema e as artes visuais, podemos fazer uma aproximação com o corpo que nos liberta”. Concluindo este início de conversa, Stefano Volp retomou a palavra falando sobre seu livro “Homens pretos (não) choram” e o entendimento de seu corpo enquanto um corpo político: “Foi quando pela primeira vez resolvi colocar o meu corpo presente de fato”.
Na sequência, a conversa avançou para o terreno do conto e das narrativas breves — outro ponto em comum entre os autores. Marcia Tiburi comentou o fato de gostar de demorar no texto, o que dificulta o seu trabalho com narrativas curtas. “O conto tem um negócio maravilhoso, tem de ser muito redondo. Os grandes escritores são os escritores de contos.” O primeiro livro de Geovani Martins é um celebrado volume de contos, “O sol na cabeça”, traduzido para diversos países desde o seu lançamento, uma narrativa viva e fortemente musical em seu ritmo sobre a realidade periférica no Rio de Janeiro. “O conto tem uma coisa que me fascina que é a facilidade de encontrar leitores. O conto ganha um novo significado por permitir que a pessoa entre e saia de uma história em pouco tempo.” Ainda sobre seu primeiro livro, que narra histórias de seu próprio bairro, de sua família e amigos: “Tive medo de não ser lido pelos meus próprios personagens. Sinto que o conto me deu essa possibilidade”. Stefano Volp declarou ser apaixonado por contos. Ele, inclusive, tem um clube de leituras dedicado às narrativas curtas, o Clube da Caixa Preta, que resgata contos de autoria negra. “Antes eu achava que um conto era um romance pequeno. Mas eu descobri que não é isso. As linguagens são diferentes.”
No fim da conversa, os três convidados falaram sobre seus trabalhos mais recentes ou em processo de escrita. Stefano Volp anunciou o lançamento para o início do ano que vem de seu novo livro, “O santo de casa”, uma autoficção fortemente biográfica. “Escrevi um livro para tentar curar uma parte de mim que não foi curada. Encontrei um alívio e algumas respostas nessa escrita.” Geovani Martins destacou que sua escrita também é fortemente calcada na autoficção, construindo algo novo a partir das próprias experiências e memórias. “As pessoas não conseguem imaginar uma outra forma de viver. Tenho pensado no papel do artista na construção desses novos imaginários, da fabulação.” Concluindo sua fala, “Quero que meus próximos trabalhos resgatem em mim mesmo para entregar para o outro a possibilidade de sonhar diferente”. Já Marcia Tiburi falou sobre seu livro mais recente, publicado neste ano, “Mundo em disputa”, que discute como são criadas as narrativas sobre desesperança nos tempos atuais. “O capitalismo todo é uma distopia naturalizada”, ela finalizou.
Sobre o Fliaraxá
A CBMM apresenta, há 12 anos, o Festival Literário Internacional de Araxá, um festival literário com atividades acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência. Toda a programação é gratuita, garantindo a democratização do acesso. O Fliaraxá tem, também, o patrocínio do Itaú, da Cemig e do Bem Brasil, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Participam, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras. Todas as atividades do Festival são gratuitas, com a curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias e Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva.
Serviço
12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 19 a 23 de junho de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Programação presencial na Fundação Cultural Calmon Barreto (Praça Artur Bernardes, 10 – Centro), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: imprensa@fliaraxa.com.br
Jozane Faleiro – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002