Por Denise Fernandes
A 10ª edição do Fliaraxá está promovendo discussões importantes, conectando temas, como poesia, ética, subjetividade e romance, com a literatura. Os debates estão sendo transmitidos em tempo real pelo canal do Youtube do evento.
Os debates da tarde do dia 12 de maio começaram com Elisa Pereira mediando a mesa “Poesia do cotidiano”, com as autoras Pollyana Sousa e Alexandra Maia.
Ao ser questionada sobre como colocar poesia na ordem do dia, Alexandra diz que é um desafio, uma vez que o cotidiano tende a nos distrair com questões de ordem prática, mas que isso não pode ocorrer. Já a poesia acontece exatamente quando se tem uma pré-disposição de mudar o olhar, mesmo para os pequenos acontecimentos.
Para Pollyana Sousa, afirmando que a poesia pode ser encontrada na prática e, ao falar sobre seu processo de escrita, descreveu que, muitas vezes, os poemas podem advir de memórias e sentimentos guardados. Para ela, a escrita é o lugar em que se podem retomar essas percepções que muitas vezes estão guardadas até no subconsciente.
No segundo debate da tarde, Paulo Scott e Flávia Martins falaram sobre “Literatura, ética e subjetividade”, sob a mediação de Tom Farias.
A conversa começou com Flávia Martins, juíza do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e juíza auxiliar do Superior Tribunal Federal (STF), que se define como uma estudiosa da relação entre o Direito e a Literatura. Logo de início, ela já destacou a importância de que “a literatura faça uma mea culpa em admitir o quanto funcionou como um instrumento para a construção de um estereótipo racista das pessoas negras”. Afirma ainda que isso já vem sendo feito de alguma forma pelos autores e autoras negros mais recentes, além de outras pessoas que também escrevem sobre o tema, mas de outro lugar.
Paulo Scott chama a atenção para a importância e oportunidade única de se perceberem as questões levantadas no debate em razão da interdisciplinaridade do Direito e da Literatura. Lembra ainda que, apesar do Direito e da Literatura serem campos que se utilizam da linguagem, quando se fala em ética, ela se mostra insuficiente para o compromisso de realização da justiça, já que as leis são feitas por pessoas brancas, elitizadas, mostrando-se uma máquina de violência e manutenção de desigualdades.
Tom Farias comandou a última mesa da tarde, em que Ana Maria Gonçalves e Julián Fuks debateram sobre o tema: “As histórias que nascem de nós: encontros e desencontros do romance”.
Para Ana Maria, a literatura sempre esteve presente em sua vida e o romance sempre foi seu gênero favorito de leitura. Assim, sua opção por escrever romances adveio daí: por gostar de ler romances.
Julián trouxe ao debate seu processo de escrita, que, segundo ele, apesar de não ser doloroso, é sofrido. Isso porque é um lugar de desconforto, de insatisfação, em que há uma constante busca pela palavra certa, que perpassa pela insegurança de essa palavra encontrada não ser a certa. Ele ressalta que sente prazer na obra acabada, depois desse processo criativo exaustivo. Prazer esse que aparece não só quando a obra está concluída ou publicada, mas também quando, ao final do dia, ele pode ler algo que escreveu, e que muitas vezes o processo de escrita serve também para lidar com processos íntimos que sequer ainda podiam ser nomeados.
Acompanhe na íntegra os debates pelas redes sociais do Festival, no Instagram e Facebook e no canal do Fliaraxá no Youtube, com acesso pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=CqJgxiCD3Z8