Por Gabriel Pinheiro

As duas autoras homenageadas desta edição do Fliaraxá, Djamila Ribeiro e Bruna Lombardi, subiram ao palco de um auditório lotado nesta noite de sábado para uma conversa reflexiva e inspiradora com o curador Sérgio Abranches. Leoninas nascidas no mesmo dia, Bruna e Djamila falaram sobre seus livros mais recentes, questões ligadas ao feminino, ao autocuidado e muito mais. Sérgio Abranches deu início à mesa destacando a força e a potência das duas homenageadas desta edição. Ele declarou que não atuaria como mediador, mas que gostaria de escutar sobre a relação delas com a escrita e a literatura.

Falando sobre Djamila, Abranches destacou sua primeira obra e a sua mais recente: “Lugar de fala” e “Cartas para minha avó”, respectivamente. O primeiro, um livro ensaístico, enquanto o segundo, um livro memorialístico. “Eu era muito influenciada por autoras que escreveram memórias, mas eu tinha receio de escrevê-las.” Segundo Ribeiro, na escrita desse último livro, ela passou por um processo de humanização: “De não querer corresponder a uma imagem, a ter que seguir determinados padrões. Nele, eu pude olhar mais para a minha ancestralidade feminina: a minha mãe, a minha avó”. Sobre a ancestralidade feminina, ela ainda destacou a importância de “olhar para o lugar do feminino como esse lugar de potência”.

Bruna Lombardi comentou a honra que é participar e ser homenageada nesta edição do Festival, reunindo autoras, autores e o público para pensarem e debaterem juntos os livros e a literatura: “Que Brasil bonito é esse. Que Brasil forte”. Bruna salientou a importância da mudança de um pensamento coletivo no País. “Acredito que não há possibilidade de se fazer uma real transformação, uma real revolução sem uma verdadeira, profunda e sólida mudança de valores.”

Pensando nessa necessidade de transformação coletiva, Djamila Ribeira destacou como as redes sociais se transformaram em uma “máquina de cancelamento”: “Nós temos que refletir até que ponto a gente legitima o poder que condenamos. Que a gente legitima uma lógica que a gente diz combater”. Para ela, uma saída pode estar no pensamento da orixá Oxum sobre o autocuidado: “Se eu cuido de mim, eu vou ter uma dimensão maior do cuidar do outro. Eu vou ter um olhar muito mais generoso, muito mais acolhedor com o outro”.

Na sequência, Djamila comentou como mulheres são cobradas a serem fortes: “Isso desumaniza a mulher”. Ribeiro também discutiu a presença do racismo em diferentes esferas: “O racismo pode embrutecer a gente”. Sua fala perpassou acontecimentos vividos por ela enquanto mulher negra, incluindo o racismo científico. “Durante um tempo da minha vida, eu estava me endurecendo muito. Se eu me endurecer, o racismo venceu. Eu não posso perder a minha ternura.” Se voltando para as mulheres, Djamila concluiu: “Não podemos permitir o lugar da infelicidade e da amargura que essa sociedade patriarcal quer para nós”.

Falando sobre o seu processo criativo, Bruna Lombardi comentou que para a escrita de ficção são necessárias conexões. “Você tem de entender a dor do outro, pois a dor do outro é profunda.” Segundo ela, “essa é a nossa profissão, a gente deixa que essa dor nos invada”. Ao fim da conversa, Bruna Lombardi comentou sobre seu novo livro, recém-lançado, “Manual para corações machucados”: “O mundo nos machuca, muitas vezes, sem que a gente sequer perceba”. Ela salientou que o processo de escrita foi dolorido. “Ele me machucava por dores e afetos que não eram meus.” Mas ela disse não se arrepender das dores que deixou que a invadissem nesse processo: “As pessoas sentiram essa identificação, consegui chegar em corações machucados. Essa é a minha missão: atingir as pessoas e perceber que alguma pequena diferença, algum sentimento de cura, alguma esperança foi possível”.

Sobre o Fliaraxá

A CBMM apresenta, há 12 anos, o Festival Literário Internacional de Araxá, um festival literário com atividades acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência. Toda a programação é gratuita, garantindo a democratização do acesso. O Fliaraxá tem, também, o patrocínio do Itaú, da Cemig e do Bem Brasil, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Participam, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras. Todas as atividades do Festival são gratuitas, com a curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias e Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva.

Serviço

12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 19 a 23 de junho de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Programação presencial na Fundação Cultural Calmon Barreto (Praça Artur Bernardes, 10 – Centro), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliaraxa
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: imprensa@fliaraxa.com.br
Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002