Por Márcia Maria Cruz

Afonso Cruz, Geni Núñes e Tom Farias abordaram a diversidade linguística e as relações afetivas a partir do conceito de decolonialidade, no quarto dia do 12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá –, na Fundação Calmon Barreto. 

Geni constrói saberes na interseção entre o ativismo indígena e a academia. O seu campo de estudos passa pela compreensão da relação entre a religião e a dominação de povos indígenas. Ela olha especificamente para a construção dos afetos. “Minha família, a exemplo de outras famílias indígenas e negras, sofreu a evangelização compulsória.” 

Nesse processo de evangelização, Geni foi selecionada para ser missionária junto ao seu povo, mas não seguiu por esse caminho. A opção foi o contrária de questionar uma fé única, a ideia de pecado e como essa fé implica as concepções de amor. Na academia, ela estuda cartas jesuíticas para entender o que ela denomina de sistema de monoculturas – única língua, única forma de amar, único jeito de estar no mundo. 

O primeiro aspecto proposto por Geni nesse exercício de descolonizar o pensamento é mudar a ideia de que o Brasil não foi descoberto. “O Brasil foi inventado.” É preciso desvelar o que ela chama de “Caravela epistémica” que encobre saberes e conhecimentos que já existiam antes da chegada dos colonizadores. “A nossa maneira de nomear foi barrada pela forma impositiva de narrar o mundo”, diz. O convite feito a todos é repensar palavras como “bem”, “família”, “caridade”, “amor”. 

Tom Farias pontuou que a língua portuguesa não é mais uma língua europeia. No Brasil, por exemplo, o português se transformou com as línguas indígenas e dos povos negros. A língua portuguesa europeia está em extinção. Afonso lembrou que, mesmo em Portugal, há muitas variantes do português, mas o falado em Lisboa é o hegemônico. Afonso fez uma reflexão sobre a proporção entre o número de línguas faladas no mundo e o número de países existentes.

Afonso pontuou que não há uma equivalência entre número de línguas e países: o número de línguas é muito maior do que o número de países. No entanto, o escritor  chamou a atenção para um dado preocupante: a cada quinze minutos, desaparece um universo linguístico. “É uma catástrofe. Perdemos algo que não vamos recuperar”, afirmou. 

A expansão ou a extinção de um idioma no mundo tem relação direta com o prestígio do país de onde é falado.  Afonso exemplificou com o número de Prêmio Nobel que Portugal possui. 

Geni também apresentou parte da sua pesquisa, a discussão que faz sobre o termo monogamia, como na concepção da igreja e a maneira como se entende na atualidade.

Sobre o Fliaraxá

A CBMM apresenta, há 12 anos, o Festival Literário Internacional de Araxá, um festival literário com atividades acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência. Toda a programação é gratuita, garantindo a democratização do acesso. O Fliaraxá tem, também, o patrocínio do Itaú, da Cemig e do Bem Brasil, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Participam, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras. Todas as atividades do Festival são gratuitas, com a curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias e Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva.

Serviço

12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 19 a 23 de junho de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Programação presencial na Fundação Cultural Calmon Barreto (Praça Artur Bernardes, 10 – Centro), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliaraxa
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: imprensa@fliaraxa.com.br
Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002